Atividades

Cento e vinte e quatro anos de Folia de Reis em Ribeirãozinho, Mato Grosso, tradição que atravessa século.

 

 “Já são 42 anos na Folia. Quem me ensinou a afinar a viola, cantar o Reis, passar a coroa, sapatear a catira e dançar uma roda foram tio Lúcio da Silva, Manoel Cascavel e João Amaro. Eles foram os três grandes mestres que tivemos, os líderes que organizaram e cuidaram de tudo. Eles nos transmitiram esse legado, e seguimos ativos até hoje para que essa tradição, que é tão bonita, não se perca. É algo que está se tornando uma relíquia pelo mundo. Por isso, estamos firmes, cantando aos Santos Reis, visitando os devotos, arrecadando recursos para entregar aos festeiros, que organizam a festa para toda a comunidade”. Diz, Vanilson Carlos Ribeiro, 51 anos, participante desde os nove de idade.

Reconhecido violeiro, é exímio tocador de caixa, pandeiro, cavaquinho, reco-reco, viola e sanfona, embaixador, catireiro de roda, domina várias expressões culturais da festa, tal como a dança de roda cruzada, jogando versos onde um canta e outro responde, com o propósito de animar e chamar a atenção do dono da casa. Vanilson reverencia com carinho antigos sanfoneiros que marcaram época, como Rogério Silva, Laurey e Valmir Vilela. Vanilson homenageia aos alferes mais antigos, os mestres da Folia, Jerônimo Chagas, Sebastião Macário e Carlos Leite numa continuidade ancestral que potencializa e vivifica a história cultural da Folia dos Santos Reis.

A 124ª Festa de Santos Reis de Ribeirãozinho - MT, tem como festeiros: Amanda Bento e Emerson Filho; esse ano o comando é do casal Anísio Vicente Alves e Cássia Nery.

Virgílio Junior é folião há 14 anos, é o vovô de folia (o palhaço) podendo exercer alternadamente as atribuições de cantor, tocador e catireiro. O palhaço age como guardião, vai à frente distraindo a turma, vencendo os empecilhos, liberando caminhos para os foliões que o seguem e salvando a bandeira. Atualmente, os palhaços são Virgílio e Lucas. A responsável pela Folia dos palhaços é Laudirene. Usando roupas coloridas, ostentam máscara de couro enfeitada com lã de carneiro e trazem nas mãos uma guia (ponteira) e ou um chicote, na caminhada, eles se alternam na atividade evitando o cansaço.

 

Lino Alves Gouvêia, há 15 anos participa da Folia, expressa com firmeza e confiança: “Eu sou o principal. Sou o Alferes da Folia, responsável por organizar a arrecadação durante os giros, para entregar todas as doações no dia da festa, em 5 de janeiro de 2025. Também sou o condutor da bandeira, conduzo a bandeira até o dia da entrega na festa de Reis”.

 O responsável pela caixa da Folia dos Santos Reis é Lino, que desempenha o papel de amealhar, coletar e salvaguardar as ofertas arrecadadas durante o giro da folia. Ele é encarregado de repassá-las ao festeiro e à festeira no dia da entrega da bandeira, destacando que “é uma ajuda para eles organizarem a festa e oferecerem o almoço e o jantar para toda a comunidade e os visitantes”. Após a oração do terço, ocorre o bingo, seguido pela coroação dos novos festeiros e foliões, e, em seguida, acontece o show e baile.

Laudirey Goulart de Oliveira começou a participar da Folia aos nove anos e é o Capitão guia da festividade. Ele menciona: “Sou responsável pelo giro nas fazendas e nas cidades de Ribeirãozinho, Ponte Branca e Torixoréu. Sou catireiro, toco caixa e pandeiro. Só não toco corda de viola; isso ainda não entrou na minha cabeça, mas um dia aprendo a tocar.” Após compartilhar seu desejo, ele pontua a programação da festividade: “A Folia começou no dia 24 de dezembro de 2024, passou por parte da cidade de Ribeirãozinho, fui para as fazendas e Torixoréu. Amanhã, parte para Ponte Branca, depois volta para Ribeirãozinho novamente, e vai encerrar no dia 5 de janeiro de 2025. A festa é com almoço e jantar gratuitos para todos, além de um bailão com forró.”

Vanilson Carlos Ribeiro é o Embaixador da Folia, sendo responsável por embaixar e comandar a Folia na cantoria e nos versos que são realizados. Laudirene Goulart de Oliveira desempenha as tarefas necessárias na Folia. Sebastião Pereira dos Santos, sanfoneiro da Folia, exerce sua função com responsabilidade, herdada de “Zé Bete do Ribeirãozinho”, um antigo tocador. Elias Soares de Souza toca pandeiro e acompanha a Folia há cerca de 20 anos. Anísio Vicente Alves, conhecido como o “folião cabeça dos outros foliões”, está na Folia há aproximadamente dez anos e toca qualquer tipo de instrumento. Este ano, ele é o responsável pela Folia juntamente com sua esposa, Cássia Nery.

Erli Mendes toca viola e entoa os cânticos adequados para cada ocasião; Carlos Leite também toca viola e canta. Maria Aparecida da Silva toca reco-reco, assim como Lucineide Cardoso de Oliveira. Luiz Otávio Goulart de Freitas, de apenas 13 anos, participa da Folia há quatro, trabalha como vovô (palhaço) e toca meia-lua. Mônica Rodrigues de Oliveira acompanha a Folia há cerca de sete anos, toca caixa e é mãe de duas crianças foliões. São eles: Kayro Chagas de Oliveira, de dez anos, que participa da Folia desde os sete, e toca pandeiro e meia-lua; e Kauan Chagas de Oliveira, aos seis anos de idade, que está na Folia desde os quatro.

Carlos Henrique Anjos dos Santos, de 20 anos, é folião desde os 16, toca pandeiro. Cecília Vitória Borges Alves, de dez anos, está na Folia desde os sete e toca meia-lua. Cristian Eduardo, de nove anos, acompanha a Folia há três anos, toca pandeiro e aprende tocar cavaquinho. Ravi Gabriel, aos nove anos de idade, participa da Folia desde que nasceu, tocando reco-reco e pandeiro. Maria Luiza Ferreira de Brito está na Folia há quatro anos, tocando reco-reco.

O cantado segundo Vanilson "se a gente chegar numa casa que tiver um presépio, primeiro saúda o presépio é um tipo de cantoria, para o dono da casa é outro tipo de cantoria, que é para pedir oferta e para agradecer, na entrega da bandeira cantar o nascimento e o padecimento de Jesus. Quando está doente é outro tipo de cantoria, é para pedir a benção dos três Reis para dar vida e saúde para aquela pessoa. Esses são os nossos deveres durante o giro”. Evidencia-se que os foliões precisam estar atentos, deter conhecimentos e saberes, e se adequar à roda e às músicas, conforme o momento emocional de cada casa, as particularidades dos devotos e o ambiente que a Folia encontra, que em sua diversidade tem caráter único e multifacetado.

 Vanilson carrega um livro artesanal, composto por todas as letras das músicas, e o momento em que devem ser cantadas no percurso da Folia. O hinário mostra: tirada da Folia; para abrir porta fechada; porta aberta; para pedir oferta; para cumprir promessa; convite para festa; primeira adoração; passar coroa; encontro de Folia; segundo encontro de Folia; para fechar a bandeira no presépio; chegada da Folia em 6 de janeiro; salvar um crucificado; cantar para um doente; agradecer quem já morreu; entrega de Folia; para salvar um cruzeiro; para saudar um embaixador; para adorar um presépio; pedir a bandeira fechada no presépio; para agradecer oferta; nascimento de Jesus; padecimento de Jesus; agradecimento de mesa; segundo agradecimento de mesa.

O folião Vanilson finaliza: “Cada verso aqui tem um tipo de cantar.” Há uma estética, uma poética e uma ética em cada detalhe da Folia. Salve os Santos Reis Magos! Salve a Estrela do Oriente!

Por Gilda Portella- multiartista, sacerdotisa de umbanda e mestranda do PPGECCO- UFMT      


Casamento de Marizete e Jolvane

Nos conhecemos em Goiânia, onde morávamos, e posso dizer que nossa história começou em um momento da minha vida que exigia muita força e dedicação. Naquele período, eu estava cuidando da minha mãe e de tios idosos, enfrentando doenças. Foi nesse cenário desafiador que o Jolvane chegou, com sua presença acolhedora e seu apoio incondicional. Ele se tornou um verdadeiro companheiro, sempre solícito e pronto para me apoiar nos momentos mais difíceis, oferecendo força e conforto em cada passo que dávamos juntos.

A mudança para Cuiabá trouxe consigo uma nova etapa em nossa vida. Já tínhamos nossos filhos, Giovana e Cezar, que completavam nossa família e tornavam nossa jornada ainda mais significativa. O Jolvane esteve ao meu lado, não só como marido e pai, mas também como um grande aliado no fortalecimento da nossa fé. Juntos, começamos a nos envolver ainda mais com a religião, encontrando nos caminhos espirituais um pilar essencial para enfrentarmos os desafios da vida.

Há dois anos, fomos acolhidos com muito carinho pela comunidade do Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo, um espaço onde passamos a vivenciar ainda mais a nossa espiritualidade. Foi através do convite da Vó Nina que nos sentimos abraçados por uma fé que nos ressoava profundamente tornando-se um local de bênçãos constantes, onde nossas vidas espirituais foram ainda mais enriquecidas.

Na data escolhida para a cerimônia dos batizados, no dia de Oxum, recebi uma surpresa emocionante. O Jolvane, com seu cuidado e amor, organizou uma cerimônia de casamento na Umbanda, depois de 33 anos de convivência. Esse gesto foi mais do que uma simples cerimônia: foi uma renovação de nossos votos, uma celebração da nossa união, é um ato de fé profunda que nos ligava não apenas um ao outro, mas também ao sagrado.

A cerimônia foi planejada com muito carinho e atenção aos detalhes, envolvendo a participação de pessoas muito especiais. Foi idealizada com o apoio do meu esposo, da minha filha Giovana, das minhas mães de santo, Gilda e Giulliana, e da Vó Nina, que com sua sabedoria e amor sempre esteve ao nosso lado. Cada detalhe, cada gesto, foi pensado com tanto amor e dedicação que a cerimônia se tornou uma verdadeira obra coletiva, composta também pela contribuição de todos os meus irmãos de fé, que, de alguma forma, marcaram sua presença nesse momento mágico.

A lembrança daquela tarde de 8 de dezembro ainda me emociona profundamente. A sensação de estar casada sob as energias e bênçãos de Oxum é algo que jamais esquecerei. A energia daquela tarde foi intensa, vibrante e profundamente significativa, e, desde então, carrego no meu coração o quanto esse dia foi especial e transformador. Casar sob as bênçãos de Oxum, uma das entidades mais poderosas e amorosas foi sem dúvida, um grande presente para minha vida e para a vida da minha família.

Aquela cerimônia não foi apenas uma celebração do amor entre mim e o Jolvane, mas uma união que transcende o plano físico e se conecta com as forças divinas que nos guiam. Agradeço profundamente por todas as bênçãos que recebemos naquele dia, e sou grata por ter tido a oportunidade de celebrar esse momento com todas as pessoas que amamos, em um ambiente de profunda fé e respeito.

Hoje, olhar para trás e perceber como tudo se desenrolou é um motivo de gratidão. Sei que aquele dia, 8 de dezembro, será marcado em minha vida como um dos mais especiais, pois foi o dia em que, mais uma vez, pude testemunhar a força do amor, da fé e da união. É um momento que carrego comigo para sempre, e sei que, com as bênçãos de Oxum, nossa caminhada continuará a ser iluminada, próspera e cheia de amor.


Batizado é ...

.

.

.

 

 

 

 

 

 

 

 

Luz de Olorum

Compromisso

Dádiva

Conexão com a ancestralidade

Sentimento inefável

Gratidão

Paz

Aprendizado intenso

Magia pura

Amor puro e verdadeiro

Benção

Elo com Umbanda 

Caridade

Proteção

Amadurecimento espiritual

Renovação

 


Baianos e Baianas na Umbanda

 

 

Cibele Foz, analista de sistemas, médium umbandista e cambone-chefe do sábado na Tenda Umbandista Centro Espírita Pai Jeremias – Seara de Vó Baiana, expressa sua imensa alegria em compartilhar um pouco de sua experiência com a linha dos Baianos e Baianas

Ela relata que conviveu com essa falange maravilhosa há quase 20 anos e que, ao longo do tempo, aprendeu admirar a sua atuação. São entidades altamente competentes que segundo ela: "são entidades exímias, atuando na linha das Almas, ao lado de Pretos (as) -Velhos (as) e Boiadeiros (as), além de também trabalharem na linha da esquerda" trazendo força e sabedoria para as giras. Para a umbandista Cibele os Baianos são: "devotos do Senhor do Bonfim, têm seu dia comemorado na Umbanda em 15 de agosto. Essa linha, além de sua atuação marcante na Bahia, estende sua presença ao Rio de Janeiro, onde atua em conjunto com a linha dos Malandros, como Zé Pilintra, e também tem forte presença nas giras paulistas".

Cibele desta que: "quem já teve a oportunidade de testemunhar a chegada dessas entidades nos terreiros sabe que elas emanaram uma força imensa, trazendo proteção, alegria, simpatia, musicalidade e sabedoria. Suas manifestações carregam paz e perseverança, encantando a todos que com eles se comuniquem". 

Seu depoimento é marcante, pois destaca as nuances dessa linha de trabalho: "Como cambone, tive a oportunidade de presenciar que os trabalhos realizados pela linha dos Baianos e Baianas requerem muita disciplina e organização. São entidades firmes, que 'não aceitam levar desaforo para casa', mas possuem uma incrível capacidade de ouvir, acolher e aconselhar com palavras mansas, baixas e serenas. Contudo, quando necessário, "não medem palavras e vão direto ao ponto", fazendo com que os consulentes reflitam sobre determinadas situações para superar suas dificuldades no plano terreno".

Por fim, ela relatou as principais características dessa linha de trabalho dentro da Umbanda, descreveu os alimentos, o modo de se apresentar, se vestir,  e o campo de atuação dos Baianos e Baianas: " essas entidades têm personalidades bem marcantes: apreciam água de coco, uma boa cachaça, licor de coco e não abrem mão de um cigarro de palha. Entre suas iguarias favoritas estão o acarajé, a cocada, o caruru e o mungunzá".

No que diga respeito à sua aparência é diversificada, colorida e alegre, "alguns os baianos costumam usar chapéus de palha, outros chapéus de couro, e alguns lenços, mantém a capoeira antiga continua presente em seus mantras e movimentos. Já as baianas se destacam pelos turbantes, saias rodadas, blusas rendadas e seus acessórios característicos, como pulseiras, braceletes, cordões e brincos grandes", que reforçam sua presença marcante e cheia de energia.

Os Baianos e Baianas possuem um jeito " modo particular, único de dançar e uma fala cantada que utilizam em seus trabalhos espirituais, especialmente para quebrar demandas e desfazer trabalhos de magia densas e negativas. Durante suas curimbas, frequentemente simulam movimentos que lembram 'embriaguez', mas esse gesto tem um propósito: ativar energeticamente os chacras inferiores. Essa característica os aproxima da linha dos Marinheiros, com quem tem uma conexão forte, imitando o balanço do mar" .

Essas entidades "são portadoras de fortes orações e rezas poderosas. Alguns trabalham benzendo com azeite de dendê e água, enquanto outros utilizam galhos de laranjeira, alecrim, arruda e outras ervas sagradas em seus rituais de cura e proteção".

Uma coisa é certa: onde quer que um baiano chegue, os ânimos dos entristecidos serão renovados, e a alegria passará a reinar, deixando sua marca de força e luz.

Cantar e rezar duas vezes como nos lembra Vó Nina. Como toda gira tem que ter musicalidade quer sejam sons de palmas, ou de atabaques e ou coro de vozes, então segue alguns pontos cantados da linha dos baianos (as):


1:
Ô MEU SENHOR DO BONFIM
VALEI-ME SÃO SALVADOR
VAMOS SARAVÁ NOSSA GENTE, QUE O POVO DA BAHIA CHEGOU
BAHIA, BAHIA, BAHIA DE SÃO SALVADOR
QUEM NUNCA FOI À BAHIA
PEÇA A DEUS NOSSO SENHOR

2:
BAIANA FAZ E NÃO MANDA, NEM TEM MEDO DE DEMANDA
BAIANA FEITICEIRA, FILHA DE NAGÔ
TRABALHA COM PÓ DE PEMBA, PRA AJUDAR BABALAÔ
BAIANA SIM, BAIANA VÁ QUEBRAR MANDINGA COM DENDÊ

3:
BALANÇA PORTEIRA VELHA, BALANÇA, BALANCEOU
BALANÇA PORTEIRA VELHA, QUE OS BAIANOS JÁ CHEGOU
GALO CANTOU, CANTOU DE MADRUGADA,
AGORA É HORA, É HORA DA BAIANADA.

4:
BAHIA OH ÁFRICA, VENHA NOS AJUDAR
FORÇA BAIANA, FORÇA AFRICANA
FORÇA DIVINA, VEM CÁ, VEM CÁ.

5:
SE ELE É BAIANO, AGORA QUE EU QUERO VER
DANÇAR CATIRA, NO AZEITE DE DENDÊ
EU QUERO VER OS BAIANOS DE ARUANDA
TRABALHANDO NA UMBANDA
PRA QUIMBANDA ELES VENCER

6
BAIANO É POVO BOM
POVO TRABALHADOR
QUEM MEXE COM BAIANO,
MEXE COM NOSSO SENHOR


Batizado no dia de Oxum

 

 

Segundo Rubens Saraceni, no Manual Doutrinário, Ritualístico e Comportamental Umbandista, “o batizado é o ato divino que reveste o espírito e o mental da criança com uma aura protetora semelhante à proteção divina que o espírito recebe ao reencarnar”.

O batismo é um rito repleto de beleza, marcado por cerimônias, preces, cânticos e toques próprios da religião, que celebram a entrada de um novo irmão na fé. O batizando, como filho de Olorum (Deus) e seguidor de pai Oxalá, passa a fazer parte do exército branco. 

Assim, abre-se simbolicamente a porta para a obtenção de vitórias divinas. Para potencializar, intensificar essas graças, o sacramento foi realizado no dia 08/12/2024, no CENSC (Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo), sob a proteção e regência de Oxum, o orixá do amor.

Oxum é o trono natural irradiador do amor divino e da concepção da vida em todos os sentidos. Como trono mineral, favorece a conquista da riqueza espiritual e a abundância material. Está em tudo o que Deus criou. Ela é tida como a Orixá do amor ou da concepção, porque é em si mesma o amor divino e o manifesta a partir de si mesmo, dando origem às agregações. A partir das agregações, Oxum dá origem à concepção das coisas, já que ela é a própria concepção divina como qualidade do divino criador, que individualizou essa sua qualidade nela, a sua divindade do amor, que agrega e concebe.

Bianca Reis Carmona Melado, advogada e trabalhadora do CENSC, realizou a cerimonia do batismo de seus dois filhos nesta data especial. Ela exprime sua emoção ao dizer: "Nesse momento, batizar meus filhos ainda crianças, sob as bênçãos de Oxum, foi algo extraordinário. Além de receberem a graça de Olorum, eles foram agraciados com as energias de amor, afetividade, carinho, comunhão e prosperidade irradiadas por Oxum".

Segundo ela, " as boas energias que emanam do corpo astral do patriarca da família Carmona, Diogo Douglas Carmona, atualmente residente em Aruanda, continuam a fluir para seus descendentes, netos e bisnetos, que também foram abençoados, coroados por esse sacramento especial"

Por fim, Bianca encerra com uma citação reflexiva: "Ainda que eu falasse a língua dos homens, e que eu falasse a língua dos anjos, sem o amor, eu nada seria" (Jesus)

Para Camila Kalix, advogada, ceramista e filha do CENSC, o batismo de sua filha caçula representou um momento profundamente especial, singularmente porque seu filho mais velho já havia sido batizado. Ela descreveu  como sendo "um entrelaçar de energias, reavivamento de conexões, fortalecimento dos laços de amizade e um instante para relembrar os ensinamentos de João Batista e Jesus". Camila destacou "as emanações das águas, trouxeram a leveza e a fluidez das bandas de Oxum, nos presenteou com as presenças espirituais amorosas, amigas e acolhedoras. Para ela, foi um momento marcante que refletiu, expressou seu amor e o respeito ao “Nosso bom Pai”. Por fim,  manifestou sua gratidão aos guias, amigos e mentores que proporcionaram esse momento possível.

Mara Curvo, advogada, empresária e trabalhadora do CENSC aproveitou o ensejo para batizar-se e sua filha. Ela relata que: "depois que me dei a oportunidade de frequentar e trabalhar com disciplina e comprometimento no CENSC, senti que era exatamente o contrário e ressignifiquei a crença (que religião prende e limita). Era esta crença que me limitava, não a religião! A umbanda é paz e amor! Me encontrei nesta religião para o meu processo de aprendizado, cura, evolução e expansão da consciência, me colocando à serviço da LUZ. Aguardei animada por esse momento do batizado! Expliquei pra minha filha Jade (4 anos) a respeito, falei sobre mamãe Oxum e ela, de forma autêntica, quis também ser batizada!"

 Finaliza seu depoimento com o coração transbordando de amor : "gratidão mãe Oxum pela oportunidade de sermos batizadas no seu dia! Peço que nos proteja sempre e que pulse em nossos corações os sentimentos de fraternidade, amor e união, pois é por intermédio de Vós que flui o amor do nosso pai Olorum. Peço que esse amor inspire e conduza, diariamente, os nossos pensamentos, sentimentos e as nossas ações, de modo que possamos agir sempre com consciência. Salve Oxum! "

 

 

 


Cangaceiros na Umbanda

Os Cangaceiros, no contexto religioso, representam estruturas e organizações de grupos espirituais sistematizados hierarquicamente, que evocam arquétipos sociais profundamente ligados à brasilidade (vinculados à figura histórica e mítica do movimento do cangaço no nordeste brasileiro).

Eles manifestam-se dentro de alguns terreiros de Umbanda transmitindo mensagens e ensinamentos de esperança e luta pela vida.

Para compreender plenamente essa expressão dentro da Umbanda, é fundamental considerar os aspectos pedagógicos, políticos, estéticos, poéticos e éticos presentes nesta religião. A Umbanda desempenha um papel multifacetado — político, histórico, social e psicopedagógico — ao integrar linhas de trabalho espirituais que carregam arquétipos e formas de atuação pré-estabelecidas ou baseados em estereótipos presentes na sociedade brasileira.

 As diversas correntes da Umbanda oportunizam espaços para que excluídos, discriminados e marginalizados possam expressar suas vozes e histórias, assumindo o protagonismo de suas próprias narrativas.

Com os Cangaceiros, Boiadeiros, Marinheiros e Baianos não é diferente. A manifestação dessas linhas espirituais apresenta nuances específicas que podem variar de acordo com a região onde ocorre a manifestação, ora estará mais conectada ou sincretizada a Boiadeiros, ora a Baianos, ora a Malandros ou, ainda, a Juremeiros.

O cangaço é interpretado sob duas perspectivas distintas: numa versão é lembrado como um movimento de “banditismo social”, onde os cangaceiros são vistos como vilões, criminosos, bandoleiros cruéis, sanguinários, homicidas, estupradores e saqueadores. Em outra visão, é compreendido como um movimento de “resistência social e luta”. Nesta perspectiva de inspiração “Robin Hoodiana”, o cangaceiro se torna o herói, o salvador do povo nordestino pobre e faminto, que enfrentou a opressão causada pelas desigualdades, pelo abuso do coronelismo, pelo voto de cabresto, pela concentração de terras, pela tirania e pela ausência de assistência do Estado.

Tais narrativas estão entrelaçadas pelas estruturas de poder, sendo moldadas por aqueles que a contam, ou seja, os pontos de vista mudam de acordo com quem as narra, em que momento e em qual quantidade são compartilhadas. Focar exclusivamente na história negativa, na perspectiva da catástrofe, é uma forma de reduzi-la e simplificá-la, despojando esse povo de sua identidade e de sua rica cultura.

 Assim, os cangaceiros podem tanto simbolizar terror e medo, quanto a libertação da fome, da miséria e da opressão e ou da religiosidade. Esses paradigmas se quebram, gerando questionamentos que abrem espaço para novas releituras e a inserção de outros personagens. Na perspectiva deocolonial, a dualidade de bem e mal é descontruída, permitindo interpretações mais complexas, múltiplas e livres de polarizações simplistas.

Devemos nos empenhar em construir narrativas pluriversas sobre os cangaceiros, destacando suas múltiplas facetas e reconhecendo que elas poderiam ser muito mais do que apenas representações estigmatizadas. É essencial enxergá-los como indivíduos que, se assemelham a nós, evocando uma sensibilidade que desperte sentimentos complexos e genuínos. Essa abordagem permite que os cangaceiros transcendam os estereótipos de nordestinos reduzidos à seca, à fome e à miséria, ou de sertanejos considerados brutais.

É essencial criar espaços para que outras vozes e outras histórias eclodam: a solidariedade, a religiosidade, as rezas para fechar o corpo e contra picadas de cobra, os patuás, a devoção a Padre Cícero, a oração da pedra cristalina e o conhecimento sobre ervas. Apenas assim é possível reconhecer a dignidade e a humanidade dos cangaceiros, valorizando suas potencialidades e suas diversas fontes de saberes e práticas.

Essas narrativas evidenciam a incrível resiliência do povo nordestino. Contar outras histórias também destacam as epistemes e a poética nordestina, permitindo-lhes empoderar, humanizar e reparar a dignidade fragmentada desse povo, recuperando, como diria Chimamanda, uma espécie de paraíso perdido.

Acredita-se, que após o desencarne, conforme foram sendo recolhidos, acolhidos e despertaram consciencialmente e espiritualmente, receberam a oportunidade de externar suas personalidades, utilizar seus conhecimentos, com suas práticas ressignificadas, suas forças aliadas a serviço da Lei Maior. Formaram as falanges no Astral, utilizando os nomes, as vestimentas de couro, as ferramentas de trabalho de quando encontravam encarnados. Desse modo, nasceu a linha dos Cangaceiros, que começou a atuar nas mais variadas tarefas no Astral, e nas fileiras da Umbanda.

Acredita-se que, atualmente, é raro ver e encontrar nos terreiros de Umbanda um guia que se manifeste como Cangaceiro e que de fato tenha realmente pertencido ao movimento do Cangaço. Porque a maioria deles já adquiriu um elevado padrão vibratório. No entanto, eles emprestam seus arquétipos, nomes, seus conhecimentos e ensinamentos para que outros espíritos recém-chegados à pátria espiritual possam atuar em suas falanges.

O Cangaceiro representa o nordestino sertanejo. Povo aguerrido, sofrido, endurecido, festivo, que foi violentamente explorado de todas as formas e maneiras. Passou fome física e de justiça social, enfrentou a espoliação, morte e a tirania. Mas usa a alegria, o encantamento, a palavra rimada, versada para driblar a morte e a violência.

 

Nos passos ligeiros das alpercatas e no gingado do xaxado, supera, contorna os obstáculos e descobre caminhos diante de qualquer impasse. Em sua algibeira ou embornal, traz ervas que curam todos os males; na ponta da lâmina, escreve poéticas e estéticas e conjura códigos dos "cabras machos". Para o Cangaceiro, a palavra, a lealdade, o vento, a cascavel, a chuva, a florada do mandacaru são vistos como entes sagrados, integrando um universo pluriversos de símbolos repletos de força.

O Cangaceiro representa o espírito do bom combatente, que luta arduamente por suas ideias, por seus direitos e pela justiça social. É essa energia vibrante, essa retidão de caráter, o senso de justiça e proteção, além da bravura, que os Cangaceiros trazem para as fileiras da Umbanda. Através da corporeidade e da personificação, expressa nos paramentos, que evocam, (re)criam-se suas identidades, conectando com o regionalismo, ao mesmo tempo em que valorizam a história e a cultura do país.

Na Umbanda, a linha de trabalho dos Cangaceiros manifesta-se como força protetora e sustentadora, especialmente voltada para aqueles que se sentem fracos, explorados, desamparados, vilipendiados e vivem em condições de vulnerabilidades como ausência de segurança, de terra, de moradia ou de alimentação. Esses guias auxiliam na proteção e segurança das casas espirituais; promovem equilíbrio e harmonia dos trabalhos mediúnicos; atendem os consulentes; atuam nos trabalhos de limpezas espirituais.

Eles realizam descarregos e desobsessões que incluem a doutrinação e encaminhamentos de espíritos inferiores para as casas de recolhimentos no plano astral; destacam-se na neutralização de magias e trabalhos negativos, proporcionando restaurações e renovações. Representam a luta pela justiça, proteção e resistência, atuam como guardiões das causas nobres de defensores dos fragilizados.

São espíritos com roupagem enérgicas, que se apresentam de forma rude e simplória, mas carregam uma essência profundamente amorosa e amigável. Eles são amparados pela hierarquia divina vinculada ao Orixá Regente, associados às irradiações do Pai Omulú e da Mãe Nanã, embora possam atuar em todas as sete irradiações divinas, esses guias possuem características únicas e peculiaridades personalizadas que devem ser respeitadas.

Rodrigo Caldas, chefe de cozinha, filho do CENSC e atualmente continua o desenvolvimento mediúnico no TUC Sete Luas, em Campinas/SP, exerce sua profissão no Restaurante Churras Steak House, situado em Socorro/SP. Ao falar sobre a Umbanda, ele destaca: “Na Umbanda, os cangaceiros são espíritos de antigos guerreiros do sertão, conhecidos por sua coragem e luta contra a injustiça. São protetores que enfrentam o mal e ajudam quem precisa com força e determinação. Diretos e firmes, ensinam lições de coragem e resistência, mostrando como superar dificuldades e transformar dor em força espiritual”.

Como espíritos em evolução, os Cangaceiros receberam a oportunidade de atuar no plano espiritual dentro de uma religião que não discrimina nem julga, mas acolhe e reconhece as pessoas pelo que viveram. Eles simbolizam a força e a honradez. Contudo, nem todas as casas umbandistas trabalham com essa linha. Um exemplo de espaço que presta homenagem a esses guias é o Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo, que realiza anualmente uma festa e várias giras dedicadas aos Cangaceiros.

Jolvane João, empresário, natural de Picos-PI, é umbandista há dois anos, frequentador do Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo. Ao longo de sua trajetória espiritual, uma das primeiras manifestações que viveu foi com a linha dos cangaceiros, o que vibrou profundamente em seu ser: “uma experiência profundamente marcante e que se alinha com minha essência. Sempre fui uma pessoa reservada, avessa à injustiça, e essa conexão com os cangaceiros refletiu e ressoou naturalmente com a minha própria postura diante da vida.

Além disso, sou uma pessoa que valoriza a agilidade e foco na eficiência. Não sou fã de esperar, a rapidez nas ações sempre foi uma característica marcante em mim. Uma grande inspiração na minha jornada foi o Padre Cícero, com quem me identifico profundamente. Como filho de Omolú, tenho o hábito de pedir ao cangaço sua proteção e bênção em tudo que irei realizar.

Cada dia tem sido uma nova oportunidade de aprendizado. Minha caminhada espiritual tem sido, sem dúvida, de constante transformação, graças aos Orixá e às terapias que venho praticando. Por meio delas, aprendi a desenvolver paciência e, mais importante, a confiança em mim mesmo, algo que faltava em minha vida antes de adentrar na religião.

Meu passado foi marcado por desafios e uma grande carga de responsabilidades, o que gerou bloqueios emocionais significativos em minha trajetória. No entanto, através da terapia, estou aprendendo a me libertar dessas amarras e a seguir um caminho mais leve e aberto para o futuro”.

Durante o depoimento, o médium Jolvane revelou sua grande inspiração pelo “Padim Cícero”, a forte identificação e sintonização com perfil psicológico dos cangaceiros. Atribui suas vitórias pessoais e novos aprendizados aos Orixá e ao autoconhecimento que tem buscado.

Os Cangaceiros possuem nomes simbólicos que remetem a figuras marcantes e emblemáticas, como Maria Bonita, Lampião, Zé do Cangaço, Severino, Maria do Cangaço, Maria Quitéria, Folha Seca, Corisco, Diabo Loiro, Maria Légua, Zé Baiano, Pinga-fogo, Candieiro, Julião, entre outros.

O seu dia da semana é na segunda-feira. Suas cores predominantes são amarelo, laranja, vermelho, roxo, marrom, branca ou tons de terra forte. Essas cores podem variar conforme o Orixá ao qual são correspondentes. As oferendas para os cangaceiros são feitas com velas nessas cores, e também com umbu, cajus, coco verde, jaca, banana, cajá, carne de sol, peixe de água doce, farinha, cachaça, rapadura, cigarro de palha e fumo de rolo. Em 17 de janeiro é comemorado na Umbanda a linha de cangaceiros e baianos.

Do ponto de vista cultural e artístico, os Cangaceiros se tornaram um tema recorrente no imaginário brasileiro. Sua história e simbologia são amplamente exploradas na literatura de cordel, no teatro, no cinema, na música, nas artes plásticas e visuais, destacando a riqueza de sua representatividade e a força de seu legado na cultura nacional.

Saudação: Viva os Cangaceiros! Salve o povo do Sertão!

Por Gilda Portella – sacerdotisa de umbanda, multiartista e mestranda PPGECCO/UFMT.

 

  


Nossa Casa Reverencia Oxum.

 

 

 08 de dezembro é dia de Oxum, e na capital mato-grossense esta data se entrelaça com a celebração da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição. O terreiro umbandista - Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo (CENSC) tem duplo motivo para comemorar, pois será realizada uma cerimônia de confirmação de batismo sob as benções da mais feminina das Orixás, Oxum, em seu dia. É mister celebrar, pois os novos adeptos da Umbanda – religião de matriz afro-ameríndia brasileira – tornam-se, de fato, umbandistas pelas águas sagradas de Mamãe Oxum. Uma simbologia de (re)existência, reconexão com nossos ancestrais, nossas identidades e (re)instauração de novas narrativas. Trago aqui quatro depoimentos de jovens inseridos no universo umbandista.

 

 

Oxum

   "É a divindade do amor, ela estimula nos seres os sentimentos de fraternidade, amor e união, por isso Oxum é considerada a Mãe do Amor, da concepção, da afetividade, do carinho e da comunhão. Mãe Oxum rainha do ijexá é por ela que flui o amor de pai Olorum. Além de orixá do amor e da concepção, ela agrega e dá inicio as coisas da vida dos seres. É a rainha da pureza é beleza, riqueza e prosperidade. É dela tudo que floresce, no material, no amor, a sorte da vida, o crescimento das famílias, ela rege a gestação e as crianças até os sete anos. Associada à riqueza do ouro, metal precioso para todas as civilizações na terra, devido ás suas características de brilho, maleabilidade e raridade. Oxum, orixá do amor, da beleza, da fertilidade. Unida ao orixá Oxumaré, formam a segunda linha da umbanda, o trono do amor"[1].

   Oxum é a revelação do amor. É a rainha da pureza, da beleza, da riqueza e da prosperidade. Tudo o que floresce pertence a sua vibração e atuação: o material, o amor, as oportunidades da vida e o crescimento das famílias.

   Giovana Fernandes, advogada e trabalhadora do CENSC, tem uma ligação com os terreiros de candomblé e umbanda que remonta ao período em que ainda estava no ventre de sua mãe. Ela descreve essa conexão com excitação: “É maravilhoso como a umbanda, com toda a sua riqueza espiritual e cultural, é uma fonte transformadora de paz na vida das pessoas. Antes mesmo do meu nascimento fui guiada por ela e a conexão com as minhas raízes possuem um significado muito profundo e único. A umbanda tem essa capacidade de tocar profundamente a alma, oferecendo não apenas ensinamentos espirituais, mas também um espaço de acolhimento e cura em níveis espirituais, físicos e psicoemocionais”.

   Desde cedo, Giovana sentiu um desejo intenso de aprender mais sobre uma religião que já fazia parte de sua essência. Encantada relata: “Desde muito jovem, sempre senti uma grande curiosidade e um desejo de aprender mais sobre essa religião que, de alguma forma, já fazia parte de mim. Tinha uma ansiedade (alegria) em ouvir as experiências e histórias de meus avós e minha mãe, que compartilhavam com carinho a riqueza dessa fé. A umbanda transformou minha vida de maneira profunda, tocando meu espírito e me proporcionando um senso de pertencimento. É o espaço onde encontro paz, onde me sinto conectada com o divino e com minha ancestralidade. Sempre anseio por estar nesse lugar, porque sei que é ali que sou verdadeiramente eu, em sintonia com o sagrado”.

   A jovem Giovana nos sensibiliza com seu relato: “O amor, para mim, apareceu quando Oxum, Yansã e Ogum me escolheram, guiaram-me e protegeram-me. Foi ali, na força desses orixás, que encontrei a verdadeira manifestação do amor. Oxum, Yansã e Ogum não apenas curaram-me das dores, mas fizeram-me buscar dentro de mim a coragem e a força que eu desconhecia. Eles me mostraram que o amor verdadeiro não é apenas sobre ser amada, mas sobre ser capaz de amar-se, de renovar-se e de reerguer-se, com a força que só quem é tocado por essas energias ancestrais pode compreender. Foi nesse encontro com minha própria essência que percebi que o amor verdadeiro não é aquele que buscamos nos outros, mas o que encontramos ao reconectar-nos com a nossa própria essência”.

   Para Yasmim Lara, assistente administrativa e estudante da faculdade de Administração na UFMT, compartilha com emoções suas vivências na Umbanda: “ Certa vez me perguntaram o que é a Umbanda? E eu fiquei procurando alguma palavra que definisse essa religião por si só. Mas é impossível responder essa pergunta, sem vivenciá-la na pele, todos os dias, todas as giras, todos os trabalhos, todos os fundamentos que nos é ensinado. A Umbanda é como uma mãe, que protege, zela dos seus filhos, que cuida e que ama, mas que também pega no pé, corrige seus erros, puxa sua orelha querendo ‘nosso bem’ que muitas vezes batemos o pé duro no chão”.

   Yasmim médium e trabalhadora do CENSC dá continuidade à sua narrativa enfatizando a relevância do significado Umbanda em sua vida e revela a magnitude do ser umbandista, sempre sustentada pelos fundamentos do terreiro: “a importância dela na minha vida é extrema, porque a Umbanda salva, ela te faz renascer uma outra pessoa, isso tudo trabalhando com ancestralidade. Todos os dias ela nos ajuda em nossos relacionamentos, em nossa saúde, família, em nosso ser e em nossa vida. Ela é fortaleza, é renascimento, é ensinamento e respeito pelos mais velhos. Ser umbandista para mim, é o maior orgulho que carrego em minha vida, porque ser umbandista não é ser a pessoa mais pacífica, mais tranquila ou mais evoluída… Ser umbandista é ser uma pessoa humilde, atenciosa, é ter respeito e fé, e, nada disso adianta sem uma casa que te faz realmente ser umbandista. Uma casa que cultua verdadeiramente os fundamentos, que ajuda seus filhos e que faz tudo isso com dedicação mesmo nos seus árduos dias”.

   Gustavo Ramos, segurança do trabalho, médium no CENSC, é bisneto de uma das mães de santo mais atuante em Cuiabá nos anos de 1970 a 2010, acolhendo, atendendo com dedicação e carinho todos que buscavam sua ajuda nos bairros Consil e Alvorada. Ele destaca que: “A umbanda para mim é um reencontro com minha ancestralidade, sinto sendo guiado por eles neste caminho de luz, caridade e amor. Os ensinamentos transmitidos pelas entidades através de um atendimento ou trabalho podem mudar completamente sua maneira de pensar e viver. Outra certeza que tenho atualmente ‘você não está sozinho e muito menos desamparado’. Depois de ter passado por várias igrejas hoje encontro-me muito feliz na Umbanda, seguindo meu caminho de descoberta e transformação”.

   Juan Cristopher, estudante de arquitetura foi conduzido há um ano a casa pelo seu companheiro, médium que participará do ritual de batismo de Oxum. Juan compartilha sua experiência na Umbanda e descreve seu processo de autoconhecimento: "A Umbanda, nessa minha trajetória de quase um ano, tem sido uma história de reconexão e conhecimento, de quem eu sou hoje. É o tracejo do meu eu, o qual quero alcançar.  Desde o meu acolhimento por essa casa, fui ajudado por ela, o que tem me feito sentir pertencente.  Há um propósito maior em tudo isso, considerando desde a primeira visita até o momento atual, tenho colocado-me à disposição da espiritualidade para minha autoajuda e auxiliar ao próximo em suas necessidades. É o ressignificar do pensar e agir. É a quebra de toda as características mais inescrupulosas, tais como a arrogância, egoísmo, egocentrismo e inveja. É despir-me de tudo aquilo que não me cabe mais, para que me seja agregado a compaixão, amor e resiliência."

   

   O Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo celebra mais uma de suas atividades religiosas: o batismo na linha da Orixá Oxum. Esse momento é motivo de alegria e comemorações, mas também reflete o amadurecimento da casa, dos dirigentes e de todos os trabalhadores. Nessas cerimônias, os compromissos e as responsabilidades espirituais são (re) confirmados, além de indicar que estamos trilhando o caminho corretamente. Ao realizarmos o batismo dessas pessoas, verificamos que muitos assistidos da casa transformaram-se em umbandistas, enquanto outros tornaram-se trabalhadores comprometidos com a caridade e o amor. São aptos a seguir suas caminhadas levando a “bandeira da Umbanda, do amor e da paz”. Salve a Umbanda e os Orixás!

   Yasmim Lara finaliza agradecendo, mantendo sua individualidade, mas coletivamente sente-se integrante da grande família de axé ou de santo “Eu agradeço a mãe Gilda, pai Dionildo e também mãe Giulianna pela oportunidade de nascer umbandista nessa casa, pois nada seria assim, sem as pessoas que me fortalecem. Porque a umbanda para mim também é família”.  Já Giovana Fernandes sensibilizada, aproveita a cerimônia para externar o reconhecimento das proteções recebidas e celebrar a comunhão do amor e da fé: “nesse batizado, quero expressar minha profunda gratidão as entidades (Oxum, Yansã e Ogun) que têm sido essenciais na minha caminhada espiritual. Agradeço a eles pela orientação, proteção e presença constante, que me sustentam e me ajudam a evoluir a cada passo dessa jornada. Esse momento é uma celebração de fé, mas também de reconhecimento por tudo o que essas forças sagradas representam em minha vida”.

   A cerimônia do batismo levou Gustavo a mergulhar na história de sua família, trazendo à lembrança da profunda espiritualidade de suas bisavós: “Lembro do altar da minha bisavó por parte de pai, com os santos Santo Antônio, São Francisco, Nossa Senhora Aparecida, Santa Maria, a imagem de Jesus e a oração de São Francisco. Minha bisavó Alice Ramos tinha um terreio e atendia, semanalmente inúmeras pessoas. Do outro lado da minha família materna, minha outra bisavó, tinha momentos em que ela incorporava guias, em casa, junto com seus filhos, familiares mais próximos e amigos. Naqueles momentos sagrados, ela recebia o caboclo Pena Dourada, Chica Preta e a vovó Catarina, e ali ela realizava passes e dava consultas. Minha bisavó Elizete”

 

 

Ponto cantado [2]:

            Eu vi mamãe Oxum na cachoeira

            Sentada na beira do rio

            Eu vi mamãe Oxum na cachoeira

            Sentada na beira do rio

            Colhendo lírio, lírio ê

            Colhendo lírio, lírio á

            Colhendo lírio pra enfeitar nosso conga

            Eu vi mamãe Oxum na cachoeira

            Sentada na beira do rio

            Eu vi mamãe Oxum na cachoeira

            Sentada na beira do rio

            Colhendo lírio, lírio ê

            Colhendo lírio, lírio á

            Colhendo lírio pra enfeitar nosso conga

 

Oração a mãe Oxum:

"Salve Oxum, dourada senhora da pele de ouro, bendita são tuas águas que lavam meu ser e me libram do mal. Oxum, divina rainha, bela orixá, venha a mim, caminhando na lua cheia, trazendo em suas mãos os lírios do amor e de paz. Torna–se doce, suave e sedutor como tua és. Oh! Mamãe Oxum, proteja-me, faça que o amor seja constante em minha vida, e que eu possa amar toda a criação de Olorum. Proteja-me de todas as mandingas e feitiçaria. Dai-me o néctar de sua doçura e que eu consiga tudo o que desejo: a serenidade para agir de forma consciente e equilibrada. Que eu seja como suas águas doces que seguem desbravadoras no curso dos rios, entre cortando pedras e se precipitando ás cachoeiras, sem parar nem ter como voltar atrás, apenas seguindo meu caminho. Purifique minha alma e meu corpo com suas lágrimas de alento. Inunda-me com sua beleza, sua bondade e seu amor, enchendo minha vida de prosperidade. Salve Oxum!".

 

Por Gilda Portella – sacerdotisa de umbanda, multiartista e mestranda PPGECCO/UFMT.

 

 

 

[1] Campos, D. G. e Altimari, G. Rituais da Umbanda: velas e símbolos. Cuiabá, Umanos Editora, 2021.  

[2] Campos, D. G. e Altimari, G. Rituais da Umbanda: velas e símbolos. Cuiabá, Umanos Editora, 2021. 


Rezar é...

 

  

 

Rezar é conectar-se aos orixás ao colher as ervas sagradas na mata e aguadas, macerar as folhas e preparar um chá ou um banho.

Em todas as ações, tarefas executadas dentro e fora de um terreiro por amor as entidades há uma vibração, uma essência e uma permanência poderosa.

Mantém-se os diálogos mais íntimos e secretos com os orixás varrendo silenciosamente o chão terreiro.  Areando os panelões ou lavando os alguidares os ouvidos são envolvidos em sussurros cadenciados de ensinamentos.

Enquanto se prepara as comidas dos orixás, enfeita-se o congá, troca-se os mantos do peji, limpa-se as imagens e as recolocam nos seus lugares, em tudo há benção de dar e receber. Vibra-se intuições que extasiam os corações. 

Em todas as experiências, há inúmeras possibilidades de renovar, de alegrar, potencializar a magia e os segredos ancestrais.

Se orar e vibra na intensidade dos orixás, amando ao próximo, demonstrando respeito pelos mais velhos e mais novos.

Inicia-se e amplia-se as amálgamas com os Orixás e os Santos na convivência diária das giras, na realização das obrigações corriqueiras ou nas homenagens festivas.

Pactua-se, cria-se laços afetivos, afiniza-se e encanta-se quando se compreende que as graças recebidas dos orixás são no tempo deles. Eles nos apresentam outras temporalidades, dimensões, realidades e eus.

Louvam-se os Orixás com os pontos riscados, entoando cânticos, na sinfonia das palmas e nas danças circulares que os reverenciam, atinge-se o bom ânimo para continuar caminhando entre os encantados.

Reza-se para cultuar os orixás, cultua-se os orixás para agradecer a vida, para pedir saúde, proteção, paz, força e perdão.

Entre sorrisos e lágrimas, no entrecruzamento da desesperança e da fé, consagram-se os Orixás.

Nas batalhas perdidas e ou vitoriosas, nos nascimentos e ou mortes há inspiração e o sopro oracular dos divinos ancestrais orixás.

Por Gilda Portella – sacerdotisa de umbanda, multiartista e mestranda PPGECCO/UFMT


Fala de um Preto Velho.

O balanço das águas mareava aquela tripulação a caminho do desconhecido. A higiene e condições de abrigo eram precaríssimas. Os homens sequer tomavam banho ou se alimentavam como deveriam.

A viagem era muito longa, sem previsão de chegada, pois a natureza podia adiar as previsões do capitão.

Tudo andava conforme se esperava, até o momento em que passamos por um local inóspito, onde o clima virou e enfrentamos uma inesquecível tempestade. Os homens apenas rezavam, pois o navio estava à deriva, não havia como controlá-lo naquelas condições, apenas evitavam que ele fosse arrebentado pela ressaca do mar. Naquela noite, muitos pereceram e outros sobreviveram ao que parecia ser “a Ira de Deus”.

Eu agradeço por ter sobrevivido àquilo e, mesmo assim, não tinha ideia do que me esperaria em terra firme. Assim que cheguei, fui comercializado e segui para uma família desconhecida na condição de escravo. Achei que, talvez, pudesse ser um homem livre, mas não esperava ser tratado como um escambo, uma moeda de troca.

A fé no Alto nunca foi esquecida por mim. Trabalhava de sol a sol, seguia as ordens dos senhores e cumpria tudo o que era determinado. O tempo foi passando, fui envelhecendo e não tinha mais forças para trabalhar no pesado, então, comecei a auxiliar os homens doentes, os escravos machucados e todos que precisavam de auxílio, mas os senhores de engenho eram incapazes de chamar um médico.

Fui aprendendo, na prática, como poderia ajudá-los com ervas e plantas para a cicatrização de feridas, para cura de males e chás para recuperação de doenças, males e problemas em geral.

Dediquei muitos anos de minha vida ao auxílio a homens que, como eu, não tinham a liberdade de ir e vir. Depois disso, fui médico noutra vida, estudei, aprendi muita coisa e pude ajudar muitas pessoas, mas o dinheiro falava mais alto e, muitas vezes, não atendi os homens que não podiam pagar. Atendia alguns, mas não a todos que chegavam pedindo e implorando ajuda.

Hoje, trabalho no plano espiritual e auxilio a pessoas que trabalham com cura; muitos me perguntam por que não me mostro como um médico e sim como um simples escravo negro. Digo que as marcas que mais tocam o coração do homem são as que formam cicatrizes na caminhada entre as vidas.

Como médico, aprendi muito e sou grato, mas como negro, posso dizer que carrego as marcas exemplares da minha caminhada, pois o Cristo me ensinou que os dons recebidos de graça devem ser dados também gratuitamente.

Como trabalho para o Cristo, prefiro me mostrar naquela roupagem em que nada cobrava e fazia por amor a todos que me apareciam.

Não deixo de ser médico, mas antes disso, sou apenas um negro que amou a todos os doentes que passaram por mim.

Vô Manuel

Mensagem recebida no dia 12/06/2014 por Filipe Gimenes de Freitas, advogado, escritor, palestrante espiritualista e filho do CENSC 

 


Casamento de Anita e Wendell

Casamento de Anita e Wendell em 20 de Novembro de 2024 no CENSC

  

Há quase dez anos sou trabalhadora do Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo, casa que me acolheu com muito amor e emocionada tenho dificuldades em externar minha gratidão.

Nesses anos já passamos por tantas situações difíceis em nossas vidas, que se não fosse nossa religião Umbanda que tanto amo, que nos acolheu, que nos ensina e ajuda a enxergar nossos erros para que possamos melhorar, creio que não teríamos chegado até aqui. A maior prova disso, é que minha família está comigo nessa caminhada e meu filho se tornou o Ogãn chefe do terreiro e ele me acompanha desde do início. Meu marido Wendell, do seu jeito e de forma discreta, também se faz sempre presente.

Maior demonstração de fé e carinho que recebi foi a surpresa que meu esposo, juntamente com minhas Mães de Santo Gilda e Giulianna - amigas e confidentes, fizeram ao organizar em segredo uma festa de casamento coincidindo com uma outra data que já seria de grande valia para mim, minha iniciação na linha de Oxalá. O compromisso que reafirmamos marcou o início de uma nova etapa dentro do terreiro, com maiores responsabilidade e compromisso quando estava faltando praticamente um mês para completarmos 21 anos de matrimônio. Sim!!! Nos casamos perante a Oxalá.

A iniciativa do Wendell consagrou a fé e o amor que temos e firmamos na nossa religião e a confiança que temos nesta casa. Que surpresa linda!!! Ainda estou encantada com tudo que vivi naquele dia, as lembranças estarão guardadas eternamente em minha memória e levarei por toda minha vida…

Que nosso amor e nossa família estejam cada vez mais fortalecidos com as bençãos desta casa e dos Orixás. 

Por Anita Penna - biomédica, funcionária pública e umbandista.

 

 

"ALMITRA falou de novo e disse:
- Mestre, que pensais do Casamento?

Ele respondeu, dizendo:

- Nascestes juntos,
juntos ficareis para sempre.

Ficareis juntos
quando as asas brancas da morte
dispersarem os vossos dias.

Sim. Ficareis juntos
até na silenciosa memória de Deus.

Mas que haja espaço na vossa comunhão;
e que os ventos do céu
dancem no meio de vós.

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um empecilho:
seja antes um mar vivo
entre as praias das vossas almas.

Enchei cada um o copo do outro,
mas não bebais por um só copo.

Partilhai o pão;
mas não comais do mesmo bocado.

Cantai e dançai juntos, sede alegres;
mas permaneça cada um sozinho,
como estão sozinhas as cordas do alaúde
enquanto nelas vibra a mesma harmonia.

Dai os vossos corações;
mas não a guardar um ao outro.

Porque só a mão da Vida
pode conter os vossos corações.

Mantende-vos juntos,
mas nunca demasiado próximos:
porque os pilares do templo
elevam-se, distanciados,
e o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro".

in "O Profeta" de Khalil Gibran

Oxalá e afrocuiabanidade.

 

Iniciação de Anita Penna, Yasmim Iara e Janaína Costa, na linha de Oxalá, foi realizada dia 20 de novembro de 2024 às 19:30 no Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo (CENSC), ritual realizado por Giulianna Altimari, Dionildo Campos e Evanice Monteiro, perante frequentadores da casa e médiuns do terreiro umbandista, são eles: Jolvane, Marizete, Giovana, Gustavo, Juan, Cleide, Mara, Camila Yáscara, Benedito, Luiz B., Claudio, Carmem, Joelson, Gilda, Wanira D’arc, Juliane, Camila, Filipinho e os ogãns João Vitor, Paola e Helena. A Casa recebeu convidados e visita de integrantes de outra casa de axé.

A fotógrafa Célia Soares, médium da casa, clicou os registros da noite; perenizando a alegria, a renovação dos laços dos filhos com a Casa e Orixás, seguido de jantar coletivo com todos os presentes.  

Nesta iniciação, na ritualística do Orixá Oxalá, se lava o Orí (cabeça) do filho médium com Amassi (água da fonte com ervas sagradas maceradas) simbolizando limpeza espiritual, em preparação para a raspagem no topo da cabeça (incisões ou pequenos cortes, atendendo aos ensinamentos e fundamentos da cada casa); seguido da prática de pintar a cabeça, o tronco e ou braços dos iniciados, com pó de pemba sagrada (giz branco) com representações de círculos, pontos e traços ancestrais.  

Objetivando a representação do despertar das faculdades mediúnicas e religando o filho com seu orixá, promovendo assim uma ligação, uma comunicação com o Orixá. Ritualisticamente o iniciando se entrega ao sagrado, comprometendo-se com as leis da fé e religiosidade regidas pelo Orixá cultuado, no caso Oxalá. Lembrando que cada Casa de culto, possui ritual próprio segundo as bases da sua ancestralidade. 

Por Oxalá ser o mais velho e respeitado dos Orixás e também conhecido por Obatalá que significa “o Senhor do manto branco”, por correspondência os iniciados se vestem de branco, pois essa cor está associada à pureza, ao respeito e à dignidade. O CENSC foi decorado com o branco em reverência e representando a energia desse Orixá, com rosas brancas e lindas estrelas.

Respeitando a tradição cultivada por D. Maria José da Silva Matos do Centro Espírita Pai Jeremias, usou-se água do mar, água benta, mel e azeite ungido, perante o ponto riscado do Orixá Oxalá, iluminado pela vela na cor do Orixá, ao som dos pontos cantados em honra de Oxalá. Acontecem variações nas iniciações, que são ordenações, flexibilizadas e adaptadas à história encarnacional do iniciado.

Janaína Costa com o coração em êxtase escreveu no grupo de WhatsApp agradecendo o amor, gentileza e dedicação dos irmãos e irmãs de alma e coração: “Bom dia irmãs e irmãos amados. Gratidão por tanta lindeza ontem. Tanto amor em casa detalhe e em cada gesto. Quanto carinho e amor recebi de todos. Oxalá abençoe sempre a todos nós. Sempre nos orientando na disciplina diária. No respeito para conosco e com os demais. Que a Fé, nossa fidelidade ao sagrado, seja sempre a bússola em nossa existência. Gratidão a mãe Giulianna e pai Cláudio, meus padrinhos extraordinários Gilda e Dionildo. A toda a família Nossa Senhora do Carmo. Minhas maravilhosas irmãs Anita e Yasmin Iara. Gratidão a todos os médiuns da Casa Nossa Senhora Do Carmo. Estão todos em meu coração e em minhas preces e orações. Agradecida Evanice Monteiro por suas sábias palavras de orientação. Marizeth Peixoto gratidão por seu amor grandioso. Jolvane gratidão meu irmão, que jantar espetacular. Gratidão a todos os irmãos e irmãs que tornaram a noite de ontem espetacular, extraordinária e magnífica!!!! Em prece, agradecendo tudo de incrível que ocorreu. A energia de Oxalá pulsa em minha alma, coração e pensamento.”

Anita Penna, trabalhadora do CENSC e mãe do Ogãn João Vitor, emocionada por ter sido surpreendida com um casamento supressa planejado pelo esposo e Vó Nina relata sobre sua trajetória na casa e externa seus sentimentos: “primeiro preciso agradecer à minha ancestralidade! Agradeço a essa casa que me acolheu há quase dez anos, a Umbanda transformou minha vida. Agradeço aos pais de santo, Dionildo e Cláudio, as minhas mães de santo, Gilda e Giulianna e minhas amigas confidentes. Não vou conseguir externar em palavras o que estou sentindo. Primeiro pelo passo tão importante que demos ontem em nossa iniciação e lógico pela surpresa linda que me fizeram... CASEI!!!! Sei que em tudo tem o dedinho da Vó Nina. Sou imensamente grata pelas bênçãos recebidas. É lógico que não posso deixar de agradecer a todos os envolvidos neste momento tão importante em minha vida, que ajudaram na organização, comida, iluminação, decoração e na cerimônia. Todos foram genuínos!!! Gratidão a toda espiritualidade presente, gratidão aos Orixás e a nosso Pai Oxalá. Obrigada as minhas irmãs de Santo iniciadas comigo, Janaína e Yasmin, que possamos estar sempre na luz e que sejamos sempre merecedoras do que nos foi confiado. Obrigada ao meu esposo e meu filho, por estarem comigo sempre. Foi uma surpresa linda!! Tudo perfeito!! Amo vocês!!! Axé!!!! Só gratidão!!!”

Compartilho o depoimento de Yasmim Iara que frequenta o terreiro há vários anos juntamente com sua tia Gabriela: “faço das palavras de Anita e Janaina Costa as minhas! Agradeço de coração por todos terem ajudado, contribuído e dedicarem um pouco do tempo de vocês para fazer tudo isso acontecer! Foi lindo, emocionante, grandioso e único! Obrigada pelo carinho de cada um e especialmente de mãe Gilda, pai Dionildo e Claudio e mãe Giulianna. Vocês são nosso pilar e exemplo de como devemos ser e agir com a espiritualidade!”

Yara Castro trabalhadora da casa mais uma vez encantada e agradecida pela dedicação e empenho de todos, ao observar as fotografias da cerimônia emitiu os seguintes comentários: “... com muito amor realizaram estes momentos maravilhosos, a energia de luz, de paz, de felicidade era sentida através do semblante de cada pessoa, expressando amor e contentamento. Que momentos lindos, sinto não ter participado, mas, pedi ao Pai por todas, e que este ponto de luz no universo que e é o Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo se expanda cada vez mais. Paz profunda a todos. Amo vocês”.

Dia especial para todos os umbandistas e para o CENSC. Que em todas as casas de caridade, quer sejam umbandistas e ou candomblecistas possa vibrar cada dia mais a energia de Oxalá. Que a espiritualidade atue sempre fazendo seus redirecionamentos, reordenamentos na certeza que em tudo há uma força maior de fé, amor, conhecimento, lei, justiça, transformação e renovação da vida. Que essa energia cristalina de Oxalá de fé e paz reine em todos os congá. Saravá ! Axé! Mojubá!

Por Gilda Portella – sacerdotisa de umbanda, multiartista e mestranda PPGECCO/UFMT e Tharles Figueiredo, pai de santo de Umbanda, professor de história e  mestrando PPGECCO/UFMT. 

 

 


Sincretismo e vida em nossa brasilidade.

 

Oxum: “É a divindade do amor, ela estimula nos seres os sentimentos de fraternidade, amor e união, por isso Oxum é considerada a Mãe do Amor, da concepção, da afetividade, do carinho e da comunhão.

Mãe Oxum rainha do ijexá é por ela que flui o amor de pai Olorum. Além de orixá do amor e da concepção, ela agrega e dá início ás coisas da vida dos seres.

É a rainha da pureza, é beleza, riqueza e prosperidade. É dela tudo que floresce, no material, no amor, a sorte da vida, o crescimento das famílias, ela rege a gestação e as crianças até os sete anos.

Associada à riqueza do ouro, metal precioso para todas as civilizações na terra, devido ás suas características de brilho, maleabilidade e raridade, Oxum, orixá do amor, da beleza, da fertilidade, que unida ao orixá Oxumaré, formam a segunda linha da umbanda, o trono do amor[1].

 O texto apresenta uma narrativa sobre Oxum, um dos orixás mais reverenciados na Umbanda e no Candomblé, destacando seu papel como a divindade do amor, da fertilidade, das prosperidades, das águas doces e cachoeiras. O relato de Maria Gorete e de Tharles Figueiredo, mostram a energia de mamãe Oxum transformando vidas, proporcionando acolhimento, equilíbrio e reconexão com suas forças espirituais.

A vibração de Oxum é associada ao ouro, à beleza e à gestação, simbolizando pureza e renovação da vida. Os rituais em sua homenagem, como a oferta de velas, bebidas, flores e frutas nas cachoeiras, são manifestações de gratidão e reconexão com sua essência e energia maternal.

Maria Gorete, benzedeira, negra, mãe de santo de Umbanda, é filha de Oxumaré, em Rondonópolis (MT), trabalha no auxílio espiritual do Terreiro Fundação Pai João, coordenado pelo sacerdote de Umbanda Edson Caetano.

Atualmente, Mãe Maria Gorete dedica parte de sua vida ao trabalho espiritual, tanto em sua casa no bairro Jardim Iguaçu, onde mantém um aconchegante “quarto de oração" dedicado à Preta Velha Vó Cambina e ao Caboclo Pena Branca, diariamente realiza benzimentos e passes espirituais, quanto no Terreiro Pai João. Nas datas comemorativas, longo do ano, visita rios e cachoeiras para oferecer melões com mel, rosas amarelas ou batatas doces com mel a Oxum e Oxumaré, em ritual de agradecimento ás bênçãos, milagres e proteções recebidas por ela e todos seus filhos.

 

Tharles Figueiredo, pai de santo de Umbanda, coroado pela Casa de Caridade Nossa Senhora Aparecida, fundada pela mãe de Santo Yolanda Leal é historiador e mestrando no pós-graduação em estudos de cultura contemporânea na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sempre que pode atravessa os 220 quilômetros que separam Cuiabá de Rondonópolis para atender às necessidades profissionais e espirituais. Aproveita as horas de estrada, fazendo da poltrona do ônibus, sua sala de leitura. 

Durante um café da manhã, Pai Tharles pergunta a Mãe Maria sobre a importância de Oxum em sua vida. Ele foi surpreendido com o testemunho que ela compartilhou: “[...] Oxum para mim é tudo, meu filho. Olha, como te falei, desde o início, Oxum é o meu alicerce, de onde tive força para levantar [...]”. Recordando, que Oxum a auxiliou em um momento crítico, quando grave acidente vascular cerebral (AVC) a deixou acamada e sem movimentos.

Com muita fé, Mãe Maria pediu a Orixá Oxum para que pudesse voltar a andar até o dia de Nossa Senhora Aparecida (sincretizada como Oxum em algumas casas de Umbanda). No dia da celebração 12 de outubro de 2006, com a ajuda de amigos, ela conseguiu se levantar e caminhar até o altar para agradecer o milagre.

Para Pai Tharles rememorar o seu percurso passando pela fase da rebeldia dos neófitos, o momento da revelação através do sonho, o ritual (entrega de rosas na cachoeira a Oxum) simbolizando a reconciliação consigo mesmo e aceitação da sua Orixá de frente, hoje já mais sensível e maduro, sente-se feliz, pleno e realizado com sua mãe Oxum: “Falar sobre Oxum pode ser algo complexo para mim, principalmente ao tentar definir em poucas palavras. Ela é meu orixá de frente, desde que entrei no terreiro em 2014, com 14 anos de idade. Lembro-me de questionar minha mãe de santo: “Não quero ser filho de Oxum, quero um orixá guerreiro”. Essas palavras revelavam minha imaturidade e falta de conhecimento na época. Pouco sabia eu da honra de ser filho de Oxum.

No dia do meu batismo em 2015, uma semana antes da cerimônia que seria dedicada a Xangô, sonhei com uma linda cachoeira cheia de sangue e rosas vermelhas boiando. Assustado, procurei minha mãe de santo. Ela me ouviu com calma, retirou-se por um momento e retornou dizendo que a cerimônia deveria ser dedicada a Oxum e não especificamente a Xangô, que seria meu segundo orixá. Após conversarmos marcamos de ir a um rio próximo a uma cachoeira e oferecemos rosas amarelas e muitas pétalas a Oxum, pedindo perdão pelo “quase’’ equívoco. Minha madrinha de santo e outro irmão de fé nos acompanharam. Alguns dias antes do batismo, passei pelo ritual de amaci em minha coroa e, no sábado, a cerimônia em homenagem a Mamãe Oxum aconteceu. A partir daquele momento, tornou-se meu maior orgulho ser seu filho.

A trajetória de Pai Tharles de Oxum mostra que os iniciantes se equilibram emocional e espiritualmente, harmonizando a vida ao aceitarem seus projetos reencarnatórios, sua missão de vida, seguindo irmanados aos Orixás trilhando o caminho com passos mais seguros: “Oxum me acolheu em todos os momentos de minha vida, especialmente nos mais difíceis. Ela me fez enxergar minhas qualidades, confiar em minhas escolhas e me protegeu de diversos ataques espirituais. Em momentos de incerteza, uma simples vela amarela e um copo d’água eram suficientes para me conectar com sua força.” 

Oxum, a senhora das águas doces, inspira devoção e gratidão profunda naqueles que reconhecem sua presença em suas vidas. Tanto Maria Gorete quanto Tharles Figueiredo exemplificam a força transformadora dessa orixá, que cuida, acolhe e guia com serenidade, amor e sabedoria. Sua energia está nas águas dos rios, nas cachoeiras, na doçura do mel e no brilho dos lírios e rosas amarelas, símbolos de sua graça infinita e força. Ela ensina a importância de confiar, agradecer e amar, trazendo equilíbrio e proteção em todas as jornadas.

Elementos segundo o livro Rituais da Umbanda: velas e símbolos[2]

  • Sincretismo: Nossa Senhora da Conceição;
  • Fator: agregador;
  • Vela: dourada, rosa e amarelo e azul claro;
  • Flores: lírios, rosa amarela e cor de rosa;
  • Frutas: cereja, maçã, pera, melancia, figo, pêssego, goiaba vermelha, melão;
  • Bebida: champanhe;
  • Pedra: ametista, quartzo rosa e rubi;
  • Dia da semana e data comemorativa: sábado, 08 de dezembro
  • Saudação: “Ai – ie – iô”! ou “Ora ieie ô”!
  • Chacra: umbilical:
  • Ponto de força: cachoeiras, rios (água doce);
  • Símbolos: coração e cachoeiras;
  • Polaridade: Oxumaré;
  • Irradiação: Amor
  • Atributo: amor, doação, equilíbrio emocional, concórdia, complacência, fertilidade.

 

Os depoimentos de Mãe Maria e Pai Tharles dizem da força espiritual de Oxum guiando suas trajetórias pessoais. Para Mãe Maria, Oxum foi a força que lhe permitiu superar os desafios físicos, psicoemocionais após um AVC, tornando-se um símbolo de fé e resiliência. Já para Tharles, a aceitação de Oxum como sua ‘mãe de frente’ representa um marco de autodescoberta, maturidade e reconexão com sua missão espiritual.

Sua saudação "Ora ieie ô" expressa respeito e gratidão à gentileza, que orienta seus filhos com doçura e determinação. O texto evidencia o poder transformador de Oxum, cuja energia une o material ao transcendental, promovendo harmonia e amor em todos os aspectos.

[1] Campos, D. G. e Altimari, G. Rituais da Umbanda: velas e símbolos. Cuiabá, Umanos Editora, 2021.  

[2] Idem.  

Por Gilda Portella – sacerdotisa de umbanda, multiartista e mestranda PPGECCO/UFMT.


O que esperar de Yansã em 2025.

Há vários modos, caminhos de se (re)encontra, de reverenciar a energia da Orixá Yansã: podemos fazer orações, entoar canções, acender velas, fazer pontos riscados e é possível saudá-la e reconecta-la através das cores, das fitas, das flores amarelas e ou vermelhas, por intermédio dos aromas e da degustação frutas e bebidas que representam a energia vibratória dessa potente Orixá. Ainda é possível também senti-la através em seus pontos de força, nas pedreiras, nos caminhos ou por intermédios dos seus elementos simbólicos: espada de Yansã, raios e ou chifres dos búfalos ou por meio das borboletas. Há inúmeros modos, meios e possibilidades de se reconectar com Yansã, que cada pessoa escolha o que melhor se adequa a seus gostos, realidades e possibilidades. O convite aqui é cada um se permita, ser e sentir-se deuses co-criadores, a usufruir da comunhão dessas vibrações que estão durante todo o tempo a nosso dispor e ao nosso redor. Ousem experiênciar novas oportunidades e dimensões.

Yansã

Yansã rege os raios e trovões. É a expressão da força da natureza que traz em si uma força imensa, mas que deve ser bem empregada para não causar destruição por onde passar.

Ela é a guardiã de um dos Mistérios de Deus e anula as injustiças, diluindo os acúmulos emocionais. Por ser uma divindade Cósmica, tem como atribuição atrai magneticamente os espíritos negativos, recolhe-los em seus domínios e retê-los, até que esgotem seus negativismos, para só devolvê-los às faixas neutras, de onde serão redirecionados para a luz ou para a reencarnação.

A nossa amada mãe Yansã atua em todos os campos, na ordenação, aplicando a Lei em um campo mais amplos, pois envolve todos os sentidos que direcionam os seres em evolução, conduzindo uns para o sentido dá Fé, outros para o da Justiça, da Geração, entre outros, Yansã é destreza.

O fato é que ela aplica a Lei nos campos da Justiça Divina e transforma os seres desequilibrados com suas irradiações espiralas, que o fazem girar até que tenham descarregados seus emocionais desvirtuados e suas consciências desordenadas.

Yansã em seu primeiro elemento é ar, formando com Ogum um par energético, no qual ele rege o polo positivo e é passivo, pois suas irradiações magnéticas são retas. Yansã é negativa e ativa, e suas irradiações magnéticas são circulares ou espiraladas. Observem que Yansã se irradia de formas diferentes: é cósmica (ativa) e, é o orixá que ocupa o polo negativo da linha elemental pura do ar, onde polariza com Ogum. Já em seu segundo elemento, ela polariza com Xangô, e atua como o polo ativo da linha da Justiça, que é uma das sete irradiações divinas.

Yansã ou Oyá é a orixá responsável pelos fenômenos climáticos. Yansã é a força dos ventos, o poder da natureza, a rainha do entardecer, a dona dos raios e trovões; ela que faz as tempestades. Representa a garra, a independência e a força feminina.

Marizeth Peixoto, servidora pública estadual, desde o ventre da sua mãe esteve em comunhão ancestral com forças religiosas, já foi candomblecista, e atualmente, identifica-se com a umbanda e atua no Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo (CENSC) menciona: “Sinto-me profundamente honrada e emocionada pela oportunidade de compartilhar a grandeza de Iansã, uma Orixá guerreira que, com sua força e sabedoria, transforma a vida daqueles que a invocam. Yansã é, sem dúvida, uma das entidades mais poderosas e inspiradoras dentro do panteão africano. A Yansã personifica uma energia incomparável: ela governa os ventos, as tempestades, os raios e o fogo. Seu metal é o cobre e sua presença se manifesta em toda a força da natureza. Ela tem o poder de afastar os espíritos negativos, conhecidos como eguns, e de criar um espaço sagrado onde as adversidades são dissipa­das. Sua magia é capaz de anular feitiçarias e influências negativas de qualquer ordem, restaurando o equilíbrio e a proteção”.

Marizete médium do CENSC segue em seu relato ressaltando: “Apesar de toda a sua potência, Yansã é também uma mãe amorosa e acolhedora. Ela cuida dos seus filhos com imenso carinho, oferecendo orientação e coragem, ajudando-os a se levantarem diante das dificuldades cotidianas. Sua força nos encoraja a seguir em frente e a tomar decisões com firmeza, enquanto nos ensina a encontrar nosso verdadeiro ser e a nossa própria potência. A independência e a determinação de Iansã sempre foram fontes de inspiração para mim. Em momentos de aflição, sempre senti a proteção de Yansã, que me guiou e me fortaleceu. Sua energia vibrante e acolhedora foi o farol que iluminou meus caminhos nos tempos mais difíceis, ensinando-me a não temer os ventos da vida, mas a usá-los como impulso para minha transformação. Eparrey, Oyá!!”

Já para Guilianna Altimari, mãe de santo e fundadora do Centro Espírita São Francisco de Assis e Santa Sara Kali, destaca suas experiências com a Orixá Yansã na realização dos seus trabalhos umbandistas: “Yansã é raio, trovão, vento e tempestade. Orixá feminino de força suprema recolhe os espíritos obsessores, limpando a atuação das más energias. Mulher destemida que mostra seu poder de guerrear sem pensar nas consequências esse é o ‘perigo’. Yansã liberta as mulheres dos abusos (físicos, emocionais e espirituais) mostrando que o feminino tem força e tem poder. Toda filha de Yansã tem personalidade forte muito similar ao Orixá, geralmente são inquietas, determinadas, justas e tem o poder de reerguer as pessoas que se encontram desanimadas e depressivas. Nunca desistem e sempre estão dispostas a enfrentar grandes desafios. Yansã é o búfalo e a borboleta ao mesmo tempo que são fortes e guerreiras; são sutis e quando amam são fenomenais, mas cobram muito o tempo todo. Trabalhar com a energia de Yansã é magnífico ela traz foco, determinação e energia para gira. Quem nunca se emocionou ao ouvir Eparrey. Yansã Orixá, regente de 2025 juntamente com Xangô podemos esperar um ano de justiça, limpezas, muita força e claro alguma confusão, pois Yansã não dá mole não! Yansã para algumas casas é cultuada na cor vermelha em outras amarela e até no laranja, isso muitas vezes confunde quem é novo na religião”.

Altimari reafirma o porquê da sua identificação com essa potente Orixá feminina que tanto tem ensinado sobre as outras possibilidades de ser  umbandista: “ no terreiro quando abrimos a gira sempre invocamos a energia de Yansã para limpar a casa e trazer energia positivas para gira, para médiuns, trabalhadores e demais frequentadores, é incrível como a energia de Yansã contagia a todos na casa, elevando a vibração trazendo ânimo, disposição e alegria. EPARREI minha mãe.”

 

 

 

Elementos segundo o Livro Rituais na Umbanda: velas e símbolos[1]

  • Sincretismos: Santa Barbara;
  • Fator: movimento e direcionador;
  • Vela: amarelo e vermelho;
  • Flores: rosas vermelhas e amarelas, tulipas, palmas amarelas e vermelhas;
  • Frutas: abacaxi, manga-rosa, romã, pitanga, maçã vermelha, cereja, mamão, melão, morango, pêssego, caju, melancia, banana-ouro, banana-nanica, cenoura com mel, jambo, tangerina, laranja-baia (laranja-de-umbigo), limão, uva-rosa;
  • Bebida: licor de anis e menta, licor de cereja, vinho rose, champanhe branco, água da chuva;
  • Pedra: citrino, cristal;
  • Dia da semana e data comemorativa: terça-feira e 04 de dezembro;
  • Saudação: “Eparrey Iansã”!
  • Chacra: laríngeo;
  • Ponto de força: as pedreiras e os caminhos;
  • Símbolos: espada, raio, cálice, chifres de búfalo;
  • Polaridade: Ogum;
  • Irradiação: Lei;
  • Atributos: movimento e mudança, necessidade de deslocamento, transformação materiais, avanços tecnológicos e intelectivos luta contra as injustiças.

  

Ponto cantado:

Olha que o céu clareou

Quando o dia raiou

Fez o filho pensar

A Mãe do tempo mandou

A nova era chegou

Agora vamos plantar

Do Humaitá Ogum brandou

Senhor Oxóssi atinou

Iansã vai chegar

O Ogã já afirmou

Atabaque afinou

 Agora vamos cantar

A eparrei ela é Oyá, ela é Oyá

A eparrei é Iansã, é Iansã

A eparrei

Quando Iansã vai pra batalha

Todos os cavaleiros param

Só pra ver ela passar

A eparrei ela é Oyá, ela é Oyá

A eparrei é Iansã, é Iansã

A eparrei

Quando Iansã vai pra batalha

Todos os cavaleiros param

 

Oração a Yansã:

“Minha Iansã, orixá, mãe e senhora dos ventos e tempestades, das horas aflitas e das almas perdidas. Por favor, abra meus caminhos, com seus poderes para o trabalho, amor e família. Poderosa divindade das divindades, em prol dos desígnios dos filhos caídos sem norte e vontade. Piedade para nós, criaturas que vivemos, á beira das tentações, dos abismos, alheios ao pai Olorum. Mãe, empresta-nos tua decisão e tua coragem, para o encontro do nosso próprio ser. Dai-nos um roteiro de esperança e triunfo. Erradicai a pobreza dos nossos sentimentos, orienta-nos para a verdade, dentro do caminho de devoção ao supremo doador. Encoraja-nos senhora dos raios, para que nossa própria mente, siga uma só direção: amar o Olorum.”

Por Gilda Portella – sacerdotisa de umbanda, multiartista e mestranda PPGECCO/UFMT.

               .

 

[1]  Campos, D. G. e Altimari, G. Rituais da Umbanda: velas e símbolos. Cuiabá, Umanos Editora, 2021. 


Oyá- Tempo na Umbanda

Ao expandirmos nosso entendimento sobre os Orixás, colocando-o em prática nas experiências diárias, novas informações especificas e potentes vão sendo acessadas e novos conhecimentos são abertos, na chamada Expansão de Consciência. O Orixá Logunã ou Oyá-Tempo nem todos os umbandistas o conhecem e trabalham com essa irradiação. O acesso a alguns saberes requer maturidade e ética espiritual. Conhecer este Orixá da fé é também um convite para conhecermos esta energia divina, que nos auxilia  a expressar os credos, crenças e doutrinas de forma pacíficas, justas e amorosas.      

Os conhecimentos (saberes e fazeres) umbandistas são baseados nas tradições, heranças ancestrais, na oralidade, nos cânticos, nas palmas, nas músicas, nas comidas e danças circulares que renovam e mantém: o axé, fôlego divino e o fohat. Se apreende fazendo, vendo, sentindo, onde as vivências e práticas que sustentam a percepção do sagrado, que é multiverso e infinito. Na umbanda se apreende ensinando,  ensina-se apreendendo numa dinâmica que sempre nos desnuda aos conhecimentos e saberes da fé universal.

Logunã/Oyá Tempo.

Oyá é ligada à religiosidade dos seres, seu mistério atua sobre os descrentes, os fanáticos religiosos e os enganadores de fé alheia.

É a contraparte junto a Oxalá, rege a primeira das sete linhas da Umbanda, o trono da fé. Eles trabalham em polos opostos, ou seja, um é o positivo o outro negativo que absorve. Enquanto Oxalá emana vibrações de fé para todos os seres, Logunã equilibra os excessos absorvendo, fazendo com que não haja o fanatismo religioso.

Logunã vem para trazer o equilíbrio de fé. Enquanto nosso pai Oxalá irradia fé o tempo todo para todos os seres, Oyá Tempo absorve irradiações religiosas desordenadas que não são saudáveis aos seres quando vibradas pelos religiosos desequilibrados.

Quando dizemos que Logunã se contrapõe a Oxalá, é porque sua atuação é no sentido de absorver os excessos religiosos, vibrados de maneira desordenada nos domínios da fé.

Para Rubens Saraceni (2003), a religião é a viga mestra da estrutura que direciona os seres e os congrega em torno de Divindades acolhedoras, amorosas, e irradiadoras de qualidades divinas de Deus Pai. Oyá rege a linha da fé, na qual atua como ordenadora do caos religioso, fluindo a religiosidade dos seres, em sua caminhada evolutiva.

Dionildo Campos, advogado e co-fundador do Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo (CENSC) ressalta a importância desse Orixá em seus trabalhos mediúnicos: "lembremos que Deus (Olorum) é energia, força e poder. A Umbanda, reconhece estas energias criadoras universais que se manifestam como Fé, Amor, Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução e Geração. Assim o Orixá Oxalá é a energia universal da fé, que sustenta a vida, especialmente a vida religiosa. Ao ser desvirtuada, usada para fins egóicos, este desalinhamento atrai a ação corretiva de Oyá, que esvazia os excessos, esgotando energeticamente essa ignorância, recolocando as vibrações da fé em harmonia com a Lei Universal (Ogum).

Ao sintonizarmos nossas atitudes e sentimentos com a vontade divina, (Mas buscai primeiro o Seu reino e sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Mateus 6.33), vamos progredindo em direção ao amor universal. Ao nos colocarmos contrariamente á esta vontade, nos colocamos contra as leis naturais de saúde, paz, fé, amor e geração. Todo o universo vibra em harmonia com princípios fundamentais que potencializam e ou limitam nossa atividade mental, física e espiritual dependendo da nossa vibração, intenção ou atuação.

Longe da harmonia religiosa, abusando, individualizando, personalizando as energias fundamentais, nos colocamos à mercê da própria Lei, que nos restringirá até voltamos ao caminho evolutivo em consonância com a Justiça divina, que tudo vê, tudo conhece. Enfim o Orixá Oyá-Tempo é o limite da fé pela razão e pela Lei. Salve Oyá. Salve Oyá, tempo de Olorum chegando para nós, com Justiça e amor".

Elementos segundo o livro Rituais da Umbanda: velas e símbolos

  • Sincretismo: Santa Clara;
  • Fator: desmagnetizador ou temporal;
  • Vela: fumê, prateado, preto e branco e azul escuro;
  • Flores: flores do campo, rosas amarelas, palmas brancas e amarelas;
  • Frutas: maracujá maduro, coco seco, carambola e abacaxi;
  • Bebida: licor de anis, água mineral e água de chuva;
  • Pedras: quartzo fumê e cristais com incrustações;
  • Dias da semana e data comemorativa: todos os dias da semana e 11 de agosto;
  • Saudação: “Olha o Tempo”!
  • Chacra: coronário;
  • Ponto de força: campo aberto ao tempo;
  • Símbolos: espiral;
  • Polaridade: Oxalá;
  • Irradiação: cristalina;
  • Atributos: Logunã/Oyá Tempo é um Orixá Cósmico, ela pune as más intenções da fé, ou utiliza de maneira errada a religiosidade, paralisando energeticamente os fanáticos religiosos, atua nas qualidades Divinas relacionadas a Fé e a Religiosidade.

    

Ponto Cantado:

Letra: Sandro Seco Música: Thiago Silva, Pedro Luiz Bomfim e Sandro Seco

Tempo - Ponto para Logunan.

Tudo que foi emprestado haverá de ser devolvido.

O fim de uma etapa, de outra será o início.

Um vaso de barro, seco se quebra,

A terra se espalha, o vento leva.

O o Logunan, Oyá O o Logunan!

Tudo que foi escondido, um dia será revelado.

Muros que foram erguidos,

acreditem serão derrubados.

Um vaso de barro, seco se quebra,

A terra se espalha, o vento leva.

O o Logunan, Oyá O o Logunan!

  

Oração à mãe Logunã

   “Amada Mãe da Fé, irradie sobre cada um de nós vossas irradiações vivas e divinas da Fé, nos cubra com seu manto de luz estimule e desperte de forma consciente a religiosidade, a fé pura, sincera e verdadeira em nosso Divino Criador Olorum esgote em nós o fanatismo e afaste de nossas vidas os maus religiosos que iludem, confundem, manipulam e dispersam no campo da Fé, nos livre das tentações.

Senhora do Tempo nos dê a resignação e o entendimento de que tudo tem seu tempo certo para acontecer em nossas, vidas e que esse tempo é o de Deus e não o nosso, nos envolva em sua proteção cósmica, nos isole e nos protejas dos espíritos desequilibrados encarnados e desencarnado perdidos no tempo e vazios de fé. Nos envolva em sua luz cristalina e nos ilumine tanto nos campos iluminados quanto nos campos escuros, nos conduza nos caminhos retos que nos levará em direção do nosso Divino Criador. Amém!!”

 Por Gilda Portella – sacerdotisa de umbanda, multiartista e mestranda PPGECCO/UFMT

[1] Campos, D. G. e Altimari, G. Rituais da Umbanda: velas e símbolos. Cuiabá, Umanos Editora, 2021.  


Oxalá na Umbanda.

 

Estudar sobre os orixás, os princípios teológicos e cosmológicos norteadores das Umbandas é fundamental para que ocorra a desmitificação, e uma maneira de tornar acessível a informação e combater o racismo religioso. A dinâmica de acessar os conhecimentos sagrados e milenares evidencia que vários povos africanos que foram escravizados e trazidos para o continente americano em diáspora, detinham múltiplos saberes, acessavam o tempo numa perspectiva circular e detinham uma cosmovisão, servindo para romper com a falsa ideia que os povos africanos eram incivilizados e ou iletrados.

A divulgação dos conteúdos umbandistas deixa os conhecimentos mais próximos das nossas realidades cotidianas, podendo assim ser praticado por aqueles que buscam suas conexões internas e com seus ancestrais. Assim, passamos a olhar, conceber os espaços religiosos de matriz africanas como territórios que fortalecem nossas identidades, memórias, artes e culturas afro-brasileiras.          

Falar dos Orixás em versão didática, com linguagem acessível e simplificada para que mais pessoas possam ler, compreender que apesar de ser infinita a sacralidade, elas devem ser sentidas, percebidas nas coisas singulares da vida cotidiana, nas colinas descampadas, campos abertos, matas, flores,  frutos, animais, nas águas em tudo há a presença Divina, como esse entendimento qualquer pessoa pode trilhar seu despertar consciencial, espiritual e ser mais empática e entender a energia dos Orixás nos religando. 

Oxalá é o mistério da fé, qualidade congregadora, a oniquerência de Olorum. Orixá considerado o Pai da Umbanda, o dono do branco; irradiador da fé em nível completo e multidimensional, ele é a própria fé, presente em todos os trabalhos realizados nos terreiros. No trono da fé é ele que irradia todos os sentidos e a todos os seres. Oxalá é a própria Umbanda e sua força está presente o tempo todo.

Dentro de uma escala hierárquica ele é o orixá mais alto, isto é, o próprio Divino Mestre Jesus. Nos pontos riscados, na grafia sagrado, é representado pela estrela de cinco pontas ou pentagrama. Pai Oxalá é o regente de nosso planeta, comanda a Linha da Fé, ele é a força que congrega as pessoas em um único ideal.

Nosso Pai Oxalá não deixa um único ser na terra sem seu amparo religioso e de fé, a sua irradiação ilimitada, mas a absorção de toda essa radiação depende de cada indivíduo, que precisa estar aberto para recebe–lá, um ser que esteja muito ligado aso materialismo desregrado ou querendo viver uma vida sem limites e normas, não absorverá toda essa fé, que é o que nos conduz. Mas nada impede que esse ser desperte para a fé, a qualquer momento, pois nosso pai maior estará sempre irradiando, emanando e espalhando sua energia cristalina da fé[1].

Para Hyulle Lima, fisioterapeuta e médium do Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo (CENSC) trabalhar na umbanda: “é uma dádiva, é um contentamento, sinto-me extasiada em por poder ajudar e ser ajudada. Procurei por essa paz durante anos. Trabalhar na e com a espiritualidade é um grande encantamento, é uma grande realização ser médium de Umbanda. Oxalá significa paz e prosperidade, para mim é uma segurança que tenho e posso contar sempre que precisar. Sei que meu Pai Oxalá sempre irá me proteger e me manter na linha e no caminho certo, que ele escolheu. Tenho procurado dar o meu melhor e venho sempre tentando ajudar quem me procura.”

Claúdio Zeni, magistrado e umbandista do CENSC define como é a atuação de Oxalá na Umbanda e nas nossas vidas: “falar sobre Oxalá na Umbanda atrai desde logo a lembrança da sabedoria e inteligência dos povos negros africanos, especialmente os de origem Iorubá, os quais, trazidos para o Brasil, escravizados, censurados por completo, aportaram na fase colonial brasileira e aqui seguiram suas práticas religiosas simbolicamente correlacionando santos da crença católica com as divindades espirituais que cultuavam, os Orixás. Seguindo a tradição, e assim a Umbanda cultua, São Jorge tem equivalência ao orixá Ogum, Xangô representa São Jerônimo ou São Pedro, Nossa Senhora Aparecida e da Conceição nos remetem à crença em Oxum, Iemanjá é representada por Nossa Senhora dos Navegantes, destacando, nesse sincretismo, que o orixá Oxalá vem a ser o Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Na sequência, Zeni falando sobre Oxalá, pontua que “é tratar do mais sagrado, é dizer sobre amor e sobre a prática da FÉ pela conexão incondicional com Jesus Cristo, o Filho do Criador, o ser que habita dentro de nós e assim nos sustenta, nos mantém, nos permite a interconexão com os guias e entidades umbandistas, enfim, sob os comandos de Oxalá é que a prática espiritualista da Umbanda se desenvolve e procura contribuir em todas as searas e situações para as quais é chamada”. Cantarolando o trecho de uma música umbandista encerra a sua participação na entrevista: “Oxalá criou a terra, oxalá criou o mar, oxalá criou o mundo onde reinam os Orixás...” Zeni se definiu como filho de terra temente a Deus (Olorum).  ÊPA BABÁ!

 

Elementos de Oxalá segundo o livro Rituais da Umbanda: velas e símbolos.

  • Sincretismo: Jesus Cristo;
  • Fator: cristalizador e magnetizado;
  • Vela: branca, preta ou dourada;
  • Flores: brancas (palmas, rosas, crisântemos, cravos, angélicas entre outras);
  • Frutas: de polpa branca (coco verde, pera entre outras)
  • Bebida: água, vinho branco doce, água de coco, vinho tinto doce, champanhe branco;
  • Pedra: cristal branco, quartzo cristalino;
  • Dias da Semana e data comemorativa: todos os dias da semana e 25 de dezembro;
  • Saudação: “Oxalá é meu pai”! e “Êpa Babá”!
  • Chacra: coronário;
  • Ponto de Força: colinas descampadas, campos abertos, campinas, parques;
  • Símbolos: estrela de cinco pontas, cruz e pomba branca da paz;
  • Polaridade: Logunã/Oyá tempo;
  • Irradiação: cristalina;
  • Atributos: A fé. Oxalá irradia fé o tempo todo, emana fortaleza e paciência, estabelece uma ligação com espiritualidade e leva ao despertar da fé, a compreensão do “religare” com Cristo interno.

 

Ponto cantado:

Oxalá meu pai

Tem pena de nós, tem dó

Se a volta no mundo é grande

Seus poderes são maiores

Oxalá meu pai

Tem pena de nós, tem dó

Se a volta no mundo é grande

Seus poderes são maiores.

 

Oração ao pai Oxalá:

 “Salve Oxalá, força divina do amor, exemplo vivo de abnegação e carinho! Nós vos rogamos, ó bondoso Mestre, a Vossa proteção para que, possamos sentir em nossos corações, cada vez mais viva, a chama do nosso amor por Deus e por todas as suas criaturas. Derramai Vossa bênção por sobre todos nós e, especialmente, por sobre aqueles que se encontram recolhidos ás casas de saúde, manicômios e penitenciárias, por sobre todos os que nascem neste momento e, ainda, muito especialmente pelos que desencarnaram e se dirigem, já em espirito, ao mundo invisível, para o ajuste de contas. Proteção, ó Pai Oxalá! Força e proteção para todos os que palmilham o caminho do bem, e misericórdia para os que vivem no mal para o mal, esquecidos de si próprios. Assim Seja!”

 

Por Gilda Portella – sacerdotisa de umbanda, multiartista e mestranda PPGECCO/UFMT

 

[1] Campos, D. G. e Altimari, G. Rituais da Umbanda: velas e símbolos. Cuiabá, Umanos Editora, 2021.  


Fogo Sagrado de Egunitá

 

Egunitá ou Oro é uma orixá cósmica, o fogo de Egunitá é aquele que queima, consome e purifica o ser dos desvios no campo da justiça. Faz par com Xangô na quarta linha da Umbanda. Ela traz como fator o equilíbrio e enquanto Xangô ampara, sustenta e aquece quem está em conformidade com a justiça. Egunitá consome as energias de quem se encontra corruptível nesse sentido da vida e ainda reduz sua chama interior, paralisando o ser injusto e reduzindo sua capacidade e estimulo nessas questões.

Essa divindade cósmica está assentada no polo negativo (absorvedor) do Trono da Justiça Divina, purificando os excessos emocionais dos seres desequilibrados, desvirtuados ou viciados.

Egunitá é a divindade do fogo purificador e renovador, ela é em si esse fogo cósmico que está em tudo que existe, ela é fogo que queima, consumindo e purificando os desvios do ser, no campo da justiça.

A orixá Egunitá, em seu poder, paralisa o ser injusto e reduz sua capacidade e estimulo nessas questões. Ela é evocada para purificar os seres viciados, as magias negativas, injustiças. Oro Iná também purifica os ambientes religiosos, templos, terreiros, santuários, e também casas, lares e moradias e os sentimentos dos seres em desequilíbrio com a Justiça. A qualidade cósmica desse orixá é consumidora das desarmonias da Justiça.

O fogo consumidor está presente em toda criação e onde houver um desequilíbrio, o magnetismo negativo do ser desequilibrado atrairá, condensará e acumulará este fogo devorador, que ao atingir seu ponto de combustão queimará, esgotará e anulará todo desequilíbrio que afronta à Lei (Ogum).

Evanice Monteiro médium de terreiro do Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo (CENSC), do Jardim Imperial, compartilha sua vivência: “A prática da Umbanda é para mim o prazer do servir e a satisfação da paz no coração, com o entendimento que cada irmão tem seu caminho de oportunidades e tempo adequado de aprendizado. É a manifestação concreta do amor do nosso Criador Olorum para todos os filhos nos dando oportunidades e certeza de jamais estarmos desamparados. É no trabalho que o bom ânimo, o fogo de Egunitá, brilha mais reafirmando os valores da nossa fé, respeito, fraternidade e paz, onde coloca o amor e a Lei Maior em ação para auxiliar quem aqui no Centro chegar. Com comprometimento, dedicação e responsabilidade assim, vou caminhando com mais alegria, por este planeta Terra”.

Para Dra. Janaína Santana da Costa, trabalhadora do Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo (CENSC) a umbanda: “representa a conectividade com o sagrado e meus ancestrais, equilibrando meu cognitivo e o espiritual. Nesta seara aprendi a respeitar meu ritmo e a acolher minhas limitações. Sei que a caminhada é longa, porém deixei a inércia e iniciei a caminhada. Hei de encontrar nessa jornada o melhor que os Orixás e entidades prepararam para mim. Com a convicção que não estou só. Sou uma, mas há milhares comigo. Então, não ando só. Ouço, sinto, percebo no ar, na terra que piso, nas plantas, na mata, no fogo, no vento, nas águas que serpenteiam a terra, que vibram em mim muitas existências. Vivo minha verdade, minha esperança e fé. A fé com a fidelidade que são minhas ações e pensamentos, que definem com quem andarei, ou andará comigo. Com livre arbítrio, a escolha é minha. Hoje escolhi Aruanda, meu povo, meus ancestrais, os sagrados orixás.  Salve Umbanda! Saravá Umbanda”.

Anita Penna, médium do CENSC diz da importância da prática Umbandista "reconecta-me com a ancestralidade, permitindo que meu espírito evolua. O maior aprendizado é o exercício diário do amor e caridade. Em Umbanda respeitamos a natureza, onde estão simbolizados todos os Orixás, assim ampliei a consciência de que tudo no universo conspira a nosso favor e não mediante nossos caprichos momentâneos”.

Elementos:

Sincretismo: Santa Sara Kali, padroeira do Povo Cigano;

Fator: Justiça e purificação;

Vela: laranja, dourado e vermelho;

Flores: lírio cor de laranja, begônia, flores do campo laranja, girassol;

Frutas: laranjas, abacaxi, uva, caqui, tamarindo;

Bebidas: licor de menta, suco de laranja, suco de limão, suco de tangerina, suco de gengibre;

Pedras: ágata de fogo, calcita laranja, topázio, olho de tigre;

Dias da semana e data comemorativa: Quinta – feira e 24 de maio;

Saudação: “Kali-Yê”!

Chacra: esplênico;

Ponto de força: as pedreiras e caminhos;

Símbolos: espada, estrela de seis pontas cruzadas ao centro;

Polaridade: Xangô;

Irradiação: Justiça;

Atributos: purificar os seres viciados, as magias, as injustiças, purificar meio ambientes religiosos (templos), casas e o intimo dos seres (sentimentos), pois sua qualidade cósmica é consumidora.

Sobre o Orixá Eguinitá, a médium Anita Penna menciona que: “a divindade representa o fogo, elemento sagrado que paralisa impureza, injustiça, desequilíbrio, queimando, com a limpeza necessária para que possamos em equilíbrio e seguirmos a caminhada amando e crescendo”.

É o mesmo fogo (potência) que traz à vontade e mantém ao entusiasmo em querer estudar para passar num concurso e ou ser justo, equilibrado viver segundo as leis divinas. O fogo Divino, chama sagrada de Egunitá, nos impulsiona a ter fé, amar, buscar conhecimentos, a vibrar justiça, na lei, evolução e geração. É justo que se agregue esse ensinamento em nosso cotidiano.  

Para Janaína Costa trabalhadora do CESNC: “As filhas e filhos de Egunitá são pessoas ativas, emotivas, impulsivas, reparadoras, falantes e geniosas. Portanto, na condição de filha da Orixá Egunitá, busco na Orixá a purificação de todo os excessos humanos que residem em mim. Senhora do Fogo, queima toda a negatividade presente, Seu nome é Justiça. Como Xangô,  Egunitá nos convoca a limpar nossa alma das más inclinações. Ajudará quem a ela buscar".

Na Umbanda a orixá Egunita, consumidora dos vícios e dos desiquilíbrios. O fogo consumidor está presente em toda criação e, onde houver um desequilíbrio, o magnetismo negativo do ser desequilibrado atrairá, condensará e acumulará este fogo devorador, que ao atingir seu ponto de combustão queimará, esgotará e anulará todo desequilíbrio que afronta à Lei (Ogum). (CAMPOS; ALTIMARI, 2021). A Lei, a justiça é seu verbo. Sincretizada com Santa Sara Kali, senhora e mãe do fogo, ajude-nos a nos tornar seres melhores do que aqui chegamos. Kali Yê!

 

 Ponto cantado:

        Dona do fogo,

        Descarregue o meu conga (2x)

        Purifica esse terreiro

        Pros seus filhos trabalhar (2x)

        Vem de Aruanda,

        Mãe guerreira Egunitá (2x)

        Ilumina a nossa banda,

        Vem na Umbanda trabalhar (2x)

 Oração á Egunitá:

“Espada flamejante, corta a terra, corta o ar; Traga o fogo da pedreira, ó senhora Egunitá; Protetora justiceira, mãe guerreira, mãe divina; Me guarda, me proteja, me ilumine; Saravá Egunitá, Kalie-Yê”

  

 Por Gilda Portella, sacerdotisa de umbanda, multiartista e mestranda PPGECCO/UFMT.

*CAMPOS, Dionildo Gomes e Giulianna Altimari. Rituais da Umbanda: velas e símbolos. 1.ed. Cuiabá, MT: Umanos Editora, 2021.


Lorem ipsum dolor sit amet amet

Lorem ipsum dolor sit amet amet. Tempor magnis duis neque justo sint. Praesent vitae et integer at tellus imperdiet proin consectetuer. Dictumst mauris sit. Sed nullam scelerisque habitasse lacinia felis.

Eget at vestibulum pellentesque vitae nisl est nibh metus nunc vel elit ac turpis sodales. Vestibulum libero vitae. Adipiscing dui pellentesque. Sed turpis sed. Porta wisi ultrices in ridiculus eleifend parturient sit arcu. In dolor ut. Leo nulla at. Morbi ut gravida elit quis pharetra. Ipsa felis massa. Tellus amet et euismod interdum at. Ac magna amet sapien nam ipsum. Cras eget libero. Mus eros ut. Tempor natoque sit augue ut lorem posuere pellentesque iste nulla sed consectetuer metus elit metus sollicitudin consequat duis nullam fringilla lorem. Scelerisque phasellus ac velit nullam curabitur pellentesque sunt nullam mi pede posuere ligula vitae eleifend. Nunc massa ligula risus tincidunt suspendisse. Lorem cras aenean. Commodo vestibulum amet. Mauris est netus. Est torquent dolor. Ad ut aliquet non felis consectetuer bibendum amet inceptos. Ultricies integer duis. Donec est iaculis. Nibh luctus sed eu aliquam vestibulum. Diam massa adipiscing sapien veritatis pede. Wisi tincidunt fusce dictum arcu viverra ante conubia mauris. Natoque tincidunt eget libero lorem ultrices urna sit justo. Pulvinar dolor eget. Nulla nulla ultrices mauris mauris eros dui dolor eget. A libero id etiam pede sed. Molestie praesent in eu vel aenean nibh scelerisque a curabitur odio fringilla luctus odio viverra. Non sagittis enim. Non eget eget. Ante eu nulla odio wisi tincidunt. Dapibus proin sed. Interdum porttitor quis. Nec id fermentum a est eget. Eleifend feugiat vestibulum bibendum sollicitudin dapibus mattis sodales in. Vivamus in et. Nisl proin sit ac vitae taciti.

 


Celebração da Vida - São Cosme e Damião

Cosme e Damião no CENSC em gira aberta ao público.

 

O Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo, distribuiu, as tradicionais sacolinhas com doces, pé de moleque, paçoquinha, maria-mole, doce de abobora, pipoca doce, bala, jujuba e pirulitos. Cada visitante, cada criança recebeu benção das crianças e sacolinha branca com imagem dos santos protetores das crianças.  

Dia 27 de setembro, adeptos das religiões de matriz africana e católica celebram o Dia de Cosme e Damião, conhecidos como os santos médicos ou Erês (crianças) encruzilhados com os Ibejis (orixás) do candomblé. Neste dia especial, são oferecidos doces, brinquedos e caruru em várias partes do país, uma tradição que homenageia tanto os orixás como os santos católicos protetores das crianças.

Ocorrendo sempre no dia 27 de setembro, a celebração do Dia de Cosme e São Damião adquire um caráter único no Brasil. A tradição é fruto da influência das religiões afro-brasileiras, que reverenciam o orixá Ibeji e ou os Erês, entidades que comandam a legião das crianças e simbolizam a paz, a caridade e a saúde.

As guloseimas, são doações dos trabalhadores e consulentes que frequentam a casa de Umbanda. Esse hábito de distribuir doces está vinculado a ideia de trazer saúde e alegria, está dentro dos terreiros de umbanda, é estar ligado as tradições do catolicismo popular. Aproveitando a presença de um aniversariante, todos cantaram o “parabéns prá você”, compartilharam bolo e guaraná. O aniversariante, o Erê “Gugu” da médium Giulianna Altimari ganhou bolo, presentes e muitos agradecimentos pelas bênçãos que compartilhou ao longo do último ano. Festa de criança lembra saúde, felicidade, alegria de viver.   

Viva São Cosme e Damião!

Viva a Ibejada! Viva as Crianças!

Viva Cosme, Damião e Doum! 

 

  

   


Cosme e Damião na encruzilhada da fé

As festas das crianças. Nas comemorações populares brasileiras, há um ciclo de quase um mês de festejos inter-religiosos e culturais em que as crianças são protagonistas: os saquinhos de doce do subúrbio carioca se espalharam por todos os estados, as quitandas de erês nos terreiros de candomblé, as giras de Ibejada nas casas umbandistas.

O ciclo de festas das crianças, celebra com brincadeiras, guloseimas coloridas e doces, a alegria, a ternura, que as crianças atraem, e culmina com a comemoração a São Cosme e Damião, e ou Cosme, Damião e Doum, Crispim e Crispiniano.

27 de setembro dia de Cosme e Damião não é feriado, não está no calendário nacional ou programação oficial do Estado. Neste dia, na cultura popular, diferentes grupos religiosos: católicos, umbandistas, candomblecistas, daimistas, etc. cultuam os santos gêmeos, realizando festas para as crianças ao homenageá-los.

Na sua flexibilidade, a tradição, ultrapassa o dia 27 de setembro. Se o dia coincidir com dia de semana, os devotos vão homenagear os santos gêmeos, aos sábados ou domingos. Nesta festança as celebrações se estendem até o Dia das Crianças, oficialmente em 12 de outubro, que também feriado por coincidir com o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.

Outra data referência para esses festejos é o dia 25 de outubro que celebra os santos Crispim e Crispiniano. Para os católicos o dia de São Cosme e Damião é 26 de setembro, por ser imprevisível a data da morte dos gêmeos alterou-se a data comemorativa. Anteriormente a data fixada em 27 de setembro, e correspondia ao dia da inauguração da basílica de São Cosme e Damião em Roma, no ano 527.

Em 1969 o Papa Paulo VI, reformou o calendário católico e como dia 27 de setembro é o dia em que São Vicente de Paula morreu, resolveu antecipar as comemorações de Cosme Damião para 26 de setembro. A mudança oficial não alterou a tradição pois o povo continua considerando dia 27 de setembro dia de São Cosme e Damião.   

 

Resumo da vida de Cosme e Damião que são celebrados e cultuados nas igrejas e terreiros brasileiros.

Segundo Simas (2024) a tradição católica conta que os gêmeos Cosme e Damião viveram na Ásia Menor, na Síria, durante o século III e eram médicos, caridosos, que cuidavam das pessoas, sobretudo das crianças sem cobrar pelos serviços. Diz a tradição popular, que eles levavam doces para amenizar a tristeza da doença e as violências sofridas pelas crianças. Por fazerem da prática médica uma profissão da fé cristã eles convertiam aqueles que eram curados; eles foram martirizados e degolados a mando do Imperador Diocleciano na perseguição aos cristãos no Império Romano.

 Pouquíssimo tempo tem relatos da materialização e dos milagres de Cosme e Damião sendo marcados pela cura dos enfermos e por cuidar de crianças vitimadas pela violência. Os devotos levaram os corpos dos gêmeos para Roma segundo a história oficial, assim o culto dos santos desenvolveu-se, na Europa, vinculado às práticas médicas.

Na tradição popular da Síria, diz-se que após a morte dos gêmeos, eles teriam virado duas estrelas enfileiradas que brilham juntas e vivem no céu ao lado de uma terceira estrela menor, que representaria uma criança curada por eles.

Será que essa estrela menor é aquela que nos terreiros virou Doum, ou será aquele aquela que se canta no ponto umbandista: “La no céu tem três estrelas, todas as três em carreirinha, uma é Cosme e Damião outra é Mariazinha”. Será uma grande coincidência? Quem é a terceira estrela no céu? Algumas referências são imprecisas. Mas podemos perceber que nas encruzilhadas entre mitos, histórias, os ritos ganham novos sentidos e são constantemente resignificados. 

As trocas simbólicas se fazem por intensos encontros culturais repletos de tensões, amálgamas, resistências, imbricamentos, contradições, impurezas, alteridade, dribles, gingas dos modos de praticar o mundo enquanto uma experiência encruzilhada na poética, estética da beleza cultural afrobrasileira. Isso é cultura, a cultura de encontros.

No contexto da diáspora africana nas Américas, esse culto foi associado ao culto africano da gemelaridade, destacando-se, em terras brasileiras, a hibridização entre Cosme e Damião e os orixás Ibejis muito ligados ao culto dos gêmeos e protetores dos gêmeos e das crianças em geral na tradição iorubá.

Há mais de 67 anos Mãe de santo Maria José da Silva Matos realiza festa a São Cosme e Damião no Centro Espírita Pai Jeremias – Seara de Vó Baiana e destaca: Cosme e Damião são consagrados em todos os terreiros. É uma homenagem para todas as crianças, onde têm muitas balas, guloseimas e brincadeiras de crianças. Tem muita alegria e brincadeiras”.

Tradição iorubá.

 Muitas das pessoas trazidas para o Brasil para ser escravizadas durante o colonialismo, vinham da África Ocidental, região da Nigéria, sendo os Iorubás um dos principais grupos étnicos. Foram trazidas influências linguísticas, culturais, artísticas e gastronômicas e entre os elementos da tradição iorubá que permaneceram por aqui temos o culto aos orixás (Xangô e Iemanjá etc), os instrumentos de percussão (o atabaque) e as comidas de santos (acarajé, vatapá, abará, etc).

Nesse processo, tanto da funcionalidade quanto das representações icnográficas de Cosme e Damião, foram redefinidas. Os santos passaram a estar ligados à infância, sendo considerados protetores não só dos gêmeos, mas das de toda a criançada. Nas representações icnográficas os dois adquiriram formas infantis, e um novo personagem foi acrescido à imagem: Doum, é aquele garotinho pequenininho que está posicionado no meio das estátuas de Cosme e Damiao. Supõem que essa versão popularizada vinculada às histórias de Cosme e Damião cruzados sincréticamente com o culto do Ibejis (Nigéria).

Na cultura tradicional iorubá, sempre depois que a mãe dá luz a gêmeos ela precisa ter outro filho, pois esse impede que a genitora enlouqueça e esse filho sempre é chamado Idowú. Termo iorubá Idowú, nome que se dá ao irmão nascido após os gêmeos Ibejis. Idowú virou Doum nas encruzilhadas da Amefrica.

Pai Bosco de Sangô nos relata como são os festejos e a cerimônia em seu Ilè Okowoò Asè Iyá Lomin' Osà:  No meu ilè Aṣè não fazemos festa de Ibejis, e sim oferendas a esses oriṣàs. As oferendas são feitas no mês de outubro,  próximo ao dia das crianças. Entre as oferendas está o caruru, acarajé, acaça doce e aruá, entre outras tantas iguarias que oferendamos.

Em nosso ilè procuramos não fazer sincretismo religioso, por isso temos a certeza que Oriṣàs Ibejis, nada tem a ver com os santos católicos São Cosme e São Damião. Temos a certeza que a prática do sincretismo serviu em um dado momento da história e cultura africana e afro-brasileira, hoje na minha opinião não tem sentido lógico tais práticas.  Não crítico nenhum babalorixa ou iyalorixa, mameto ou tateto que ainda tem essa prática.  Porém, na minha concepção Ibejis são Ibejis oriundo de África e Cosme e Damião é de origem europeia.  E na minha humilde opinião é necessário fazer essa distinção.   E trazer à baila debates sobre culturas distintas e diversas presentes nesse imensurável Brasil, sem, contudo, uma tentar silenciar a outra.

 Os festejos de Cosme e Damião.

 Os festejos de Cosme e Damião, via de regra, combinam duas grandes modalidades de celebração difundidas no Brasil a partir das associações entre as práticas do candomblé, do catolicismo e da umbanda: o costume baiano de ofertar o caruru e a tradição carioca de distribuir saquinhos de doces.

As comidas, sejam elas doces ou salgadas, são elementos fundamentais das sociabilidades festivas. Por isso, nas celebrações de Cosme e Damião, o caruru e os doces representam mais do que especificidades gastronômicas atrativas ao paladar afetivo: são elementos que nos ensinam sobre os pluriversos e múltiplos contextos culturais em que os santos são festejados no Brasil.

Dar caruru para os santos é mais que preparar um prato à base de quiabo e dendê. Essa atitude representa organizar festa no espaço doméstico ou religioso, ao tempo em que propaga, difunde saberes, fazeres ancestrais carregados de poética, estética e política antirracista.

 Nessa tradição soam muitas cantigas de samba de roda em louvação aos santos. As crianças são as protagonistas do caruru e sete delas são convidadas a se sentar em círculo no chão e comer com as mãos a comida sagrada. Os adultos também participam.

No caso das Ibejadas, cultuadas pelos umbandistas, são as Mariazinhas, os Pedrinhos e as Rosinhas, entidades brasileiras, que preferem os doces ao caruru. Estabeleceu-se, assim, uma relação entre o paladar das guloseimas e a doçura sagrada das Ibejadas: a entrega de doces fortalece o valor emocional associado à pureza infantil.

A tradição das guloseimas se popularizou em Cuiabá e muitas cidades brasileiras, numa configuração contemporânea: a distribuição em saquinhos, atualizou-se, utilizando, na maioria das vezes, doces industrializados numa reconfiguração atendendo às demandas dos tempos atuais.

Pai Tharles Figueiredo, coroado pela Casa de Caridade Nossa Senhora Aparecida, de Rondonópolis-MT, menciona que: “O festejo de Cosme e Damião no Brasil possui inúmeros significados e definições. É um pilar fundamental da Umbanda, ao lado dos Pretos Velhos e Caboclos. Esta linha, com toda certeza, é uma das mais bonitas. São responsáveis por levar alegria, cura, amor e união para a comunidade. Utilizando de grandes sorrisos, brincadeiras e muita esperteza para interagir com os médiuns, crianças e consulentes. No entanto, por trás de sua aparência infantil, possuem conhecimentos sagrados e uma magia capaz de curar e transformar vidas. Salve os Ibejis! Salve Cosme, Damião e Doum!”

 Oferecer doces nos festejos de Cosme e Damião promove brincadeiras por ruas, casas e terreiros, que são tomados por crianças em busca das guloseimas. Os devotos costumam distribuir saquinhos de doces estampados com a imagem dos santos no portão de casa, em praças, em frente ou dentro de igrejas, centros e terreiros que podem oferecer tanto os doces quanto o caruru às crianças e vizinhança.

Além de saquinhos preenchidos com guloseimas industrializadas (pirulitos, maria-mole, suspiros, paçoquinhas, pipoca doce, etc), e doces caseiros (pé de moleque, doce de abóbora e doce de batata-doce) a garotada ainda pode receber brinquedos. Os santos também são celebrados com o preparo de uma mesa enfeitada com bolos como numa festas infantis de aniversários. Nos festejos se reza, se brinca, canta, dança e gira com e para as Ibejadas, os Eres, São Cosme, Damião, Doum, Crispim e Crispiniano.    

 Por Gilda Portella, sacerdotisa de Umbanda do Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo, multiartista, mestranda PPGECCO/UFMT, membra do Coletivo Herdeiras do Quariterê.  


Vó Maria 67 anos de acolhimento

Gilda Portella

 

Maria José da Silva Matos nasceu em 11 de abril de 1939, em Cuiabá/MT, no bairro Terceiro Velho. Ela é filha de João Cassiano da Silva e Laurinda Rufino da Silva.

Aos 14 anos, iniciou o exercício da mediunidade no Terreiro São Sebastião de Dona Moêmia, no bairro onde nasceu.

Aos 18 anos, já trabalhava com os próprios guias: Pretos(as)-Velhos(as), Caboclos(as), Exu e Pomba Gira. Assimilou os princípios da Umbanda diretamente deles, pois não existiam livros. Seus mestres foram o Caboclo Serra Negra, Guará e a Maria do Balaio.

Aos 22 anos, casou-se com Adildo de Matos, com quem teve seis filhos, sendo cinco homens e uma mulher. Em 1978, o marido dela faleceu. Abriu-se um novo ciclo em sua vida: naquele ano começou a construir o Centro Espírita Pai Jeremias, na rua Veiga Cabral, no bairro Dom Aquino, onde trabalha até hoje, ao lado de uma centena de filhos e filhas de santo.    

A Tenda Umbandista e Centro Espírita Pai Jeremias – Seara de Vó Baiana é chamada carinhosamente por todos somente por Centro Espírita Pai Jeremias (CEPJ). Ela foi fundada em 08 de dezembro de 1978 pelos pretos-velhos Pai Jeremias e Vó Baiana.

Pai Jeremias é o mentor e orientador de todos os trabalhos da casa. Mas quem recebeu a designação para construir fisicamente o local e quem administra o dia-a-dia é a preta-velha Vó Baiana, que tudo resolve e tudo controla com muita doçura. Ela formou a diretoria e a estrutura funcional da casa juntamente com Vó Cristina, Cabocla Aracati, boiadeiros, crianças, marinheiros, cangaceiros, baianos, exus, pomba gira. No terreiro trabalha-se o desenvolvimento dos médiuns umbandistas. Alguns já se graduaram pais e mães de santo, gerando novas casas, na expansão da fé e da doutrina umbandista.

Todos os trabalhos do terreiro - Centro Espírita Pai Jeremias - são gratuitos. Mãe Maria destaca que: “para a construção do Centro, contou com a ajuda dos médiuns, da diretoria, e de todos os frequentadores (consulentes) e simpatizantes da causa".

O centro Pai Jeremias atende de segunda a sábado, das 10h às 18h. Cada dia da semana alguns médiuns e uma equipe trabalha com seus respectivos pretos-velhos, exus, caboclos, crianças. Lá se vão 67 anos de atendimentos sem espaço físico; e 46 anos de trabalhos a partir da construção do CEPJ.

As festas são organizadas pelos guias, diretoria, médiuns e consulentes do CEPJ. A casa é aberta aos simpatizantes, com orações, ao som dos atabaques e músicas da Umbanda. Os atendimentos são baseados na prática do amor, da caridade e muita fé.  As festas acontecem anualmente em:

20 de janeiro: São Sebastião, que representa Oxóssi das Matas. 02 de fevereiro: Iemanjá, que é a Nossa Senhora dos Navegantes. 13 de fevereiro: homenagens aos Exus. 23 de abril: São Jorge, que representa Ogum. 13 de maio: Pretos-Velhos. 24 de junho: São João Batista, que representa Xangô do Oriente. 26 de julho: comemora-se Nanã Buruque. 15 de agosto: homenagem às Pomba Giras. 16 de agosto: Obaluaiê e São Roque. 24 de agosto: homenagem à Oxumaré. 27 de setembro: Cosme e Damião. 30 de setembro: Xangô. 24 de outubro: Aniversário de Pai Jeremias (comemora a data que o preto-velho veio pela primeira vez no terreiro, não é referente a data de nascimento).04 de dezembro: Santa Bárbara. 08 de dezembro: Oxum e Nossa Senhora da Conceição. 13 dezembro: homenagem aos Marinheiros. 17 de dezembro: Omolu. 25 dezembro homenagem a Oxalá.              

Por Gilda Portella, sacerdotisa de Umbanda, multiartista, mestranda PPGECCO/UFMT, membra do Coletivo Herdeiras do Quariterê e do Comitê de Cultura de Mato Grosso.  

 


FESTANÇA DE VILA BELA DA SANTÍSSIMA TRINDADE 2024

 

Na Festança de Vila Bela da Santíssima Trindade, sede da capitania de Mato Grosso, a partir do ano de 1752, 520 km da capital, com 17 mil habitantes, exteriorizam seu amor à ancestralidade e reafirmam sua identidade negra – seja usando coloridos trajes afro ou turbantes; fazendo, saboreando, partilhando comidas, os biscoitos, o Kanjinjin e a Xixa; rezando, cantando e dançando ao ritmo do Congo, do Conguinho, Chorado e Choradinho, enaltecendo os Santos e a comunidade negra.

A devoção e os ritos do Divino Espirito Santo, São Benedito, à Gloriosa Mãe de Deus e às Três Pessoas da Santíssima Trindade, ritualizam significações de herança cultural afro-brasileira e ameríndia, são tradições singulares, únicas, no envolvimento coletivo do povo do Vale do Guaporé.

Valores familiares, recriam miticamente o passado, numa festividade com elementos que revivem a história local e, fazendo reconexões percorrem os trajetos realizados pelas gerações pregressas, ressignificando a cultura, nessa identidade vila-belense que tem como guardiãs as famílias negras dessa cidade.

Em 2024, os principais representantes da preservação dessa história são os festeiros da Festança.

Os Festeiros do Senhor Divino Espírito Santo são o Imperador Francisco Roobin Profeta Vieira; a Imperatriz: Aedir dos Santos Pinto e Silva; Capitão do Mastro: Jean Kenedes Fernandes Leite; Alferes da Bandeira: Manoel Neto Maciel Aranha; Procuradora Ruth Ayardes e o Procurador Nilmar Rodrigues da Cunha; os Mordomos Berchman Leite Ribeiro, Luiz Guilherme Geraldes de Oliveira, Dalmer Coelho dos Santos e Edclay Lopes Coelho.

Elton Gomes Leite

O amor se manifesta, compartilha e transforma-se entre os foliões e a Bandeira do Divino Espirito Santo que percorre as casas dos vila-belenses sustentadas pelas negras mãos hábeis de Seu Berchman e do jovem Victor Bispo. Giva faz sua sanfona instrumento de devoção, Aldo Ramos dos Santos, o pai do Mato, transmuta-se em violeiro, as cordas da viola saúdam o Santo e os moradores. Tocando, encantando eles transmitem ensinamentos aos meninos cantadores Matheus Henrique Ramos Melo, Laio Cruz, Flávio Oliveira, João Gabriel da Silva, Isaque Sanches, Ângelo Emanoel da Silva, Juliano Ramos e ao caixeiro Júlio César Mendes. Com música, canto, instrumentação, criam formas de luta, sonho e transformam seu mundo, levando a todos uma outra realidade histórica, familiar, miticamente experienciada.

Cortejados pelo Congo de Vila Bela, os Festeiros do Glorioso São Benedito têm como Rei Edvan Lopes Coelho (em memória de seu pai, Martinos Reis Coelho); a Rainha Adelay Auxiliadora de Almeida, o Juíz Lenon Silvestres Frazão da Silva, a Juíza Maristela Geraldes de Paula, junto com as Ramalhetes Ana Luiza Taques de Almeida, Anna Flávia da Silva Chaves, Natália Ferreira Coelho, Reginaile Assumpção e a promesseira Maria Luiza Paulo de Melo, que reúnem a comunidade numa continuidade ancestralizada reverenciado os antepassados “pra fazer a nossa Festa de São Benedito”, como ecoa o canto da homenagem ao Santo.

José Medeiros

Finalizando a Festança temos os Festeiros da Gloriosa Mãe de Deus. O Juiz João Paulo Geraldes de Jesus e Juiza Isaíny Cristini Carneiro Geraldes, os Festeiros das Três Pessoas da Santíssima Trindade. O Juiz Ivanildes de Assunção e Juíza Mislene Aparecida Silva Morais.

Em honra todos os integrantes da festanças, aos demais participantes, que numa coletividade familiar se dedicam a fazer a festa, atualizam a devoção, a força comunitária, fervor religioso negro e a preservação da tradição cultural vila-belense.

Quem participa desta tradição mítica vê a dedicação à festa renova-se cada vez mais, em alegria e pertencimento para cada festeiro. Desejando bençãos e presença do Santo negro sejam constantes em suas vidas. Viva São Benedito, Viva também aos que congregaram fé, trabalho e união nesta que é uma das mais antigas tradições de Mato Grosso. “Viva os festeiros hoje e sempre!”.

Leticia Oliveira e Gilda Portella - Historiadoras e membras do Coletivo Herdeiras do Quariterê e do Comitê de Cultura de Mato Grosso 

José Medeiros


Novos escritores de Cuiabá.

 

Todo mal traz um bem, dizem os otimistas. Misture pandemia, confinamento, isolamento, trabalho em casa, criatividade e fé e uma jornalista se transforma em escritora.

Giulianna Altimari no tempo de reclusão alinhavou ensinamentos sobre o uso das velas, das cores, dos rituais e mandalas da Umbanda, em livro publicado pela Umanos Editora, ainda neste semestre: Rituais da Umbanda: velas e símbolos.

Cada Orixá, (manifestação da força de Deus), tem sua cor, sua música, seu ritual e orações próprias com as velas de cores correspondentes. O povo brasileiro é a soma das culturas indígenas, europeias e africanas, e nos últimos anos com pitadas da sabedoria asiática.

Místico, religioso, ritualista, supersticioso, o brasileiro tem uma natural curiosidade pelas energias do astral, que podem ser conhecidas dentro das mais diversas linhagens espirituais. Somos a nação mais católica, mais evangélica e mais espírita do mundo. Assim os livros que abordam este tema têm um interesse garantido perante o público leitor.

A mini biografia na orelha do livro, informa que Giulianna Altimari, natural de Penápolis SP, é bacharel em Direito, colunista social e radialista, comunicadora, psicoterapeuta holística com especialidade em abordagens terapêuticas, anatomia energética, aromaterapia, cromoterapia, terapia com florais de Bach, cristais, radiestesia, meditação, musica e Shiatsu.

Iniciada mãe de santo na Umbanda, por Maria José Matos fundadora do Centro Espírita Pai Jeremias em Cuiabá, onde atende também no Centro Nossa Senhora do Carmo (Jardim Imperial). Em chapada dos Guimarães fundou o Centro Espírita Santa Sara Kali e São Francisco de Assis. Devota de Santa Sara Kali, realiza todos os anos a Festa Cigana em homenagem a este povo musical e sem fronteiras. Conduzida pela mãe Wanira Altimari, estudou Kardec, e na Umbanda encontrou seu caminho espiritual. Seguindo a tradição de família, ensina para Paola Altimari, sua única filha, o caminho da sensibilidade e os princípios básicos da religião, continuando a tradição.

Para alinhar conceitos de matrizes tão diferentes e manter o ‘pé no chão’ da realidade, a autora pesquisou nos Centros Espíritas de Umbanda “Pai Jeremias”, “Nossa Senhora do Carmo”, “São Francisco de Assis”, as práticas espirituais que ornam o conteúdo do livro, sistematizando e atualizando o conhecimento desta fé.

A seguir, fez o levantamento bibliográfico das informações coletadas nos templos acima, para melhor identificação das praticas e rituais adotados nos terreiros. Para a digitalização das informações da pesquisa bibliográfica, foi ajudada pelo advogado Dionildo Gomes Campos, também médium e terapeuta, que dividiu em tópicos e capítulos os temas abordados.

João Almeida, geógrafo, professor e fotógrafo, fez o registro visual, reproduzindo em cores, as mandalas, velas, e oferendas utilizadas nos costumes tracionais dos centros espíritas por seu participantes, consulentes, crentes e aprendizes.

Toda a edição do livro, terá distribuição gratuita nas bibliotecas, escolas, centros de cultura de matriz africana e Centros Espíritas, para melhor conhecimento destas tradições que enriquecem o jeito brasileiro de ser. A Lei Aldir Blanc, veio abrir caminho aos noveis escritores, que exercitam o estudo, a pesquisa, a criatividade colocando no papel a sensibilidade, a visão de mundo, expressando a fé individual. Tudo feito sob a coordenação de Gilda Portella que atuou com total dedicação na criação da obra que foi feita pelo criterioso olhar da equipe da Editora Umanos. Todos os livros foram disponibilizados para instituições, bibliotecas, centros espiritas, entre outros. Devido a pandemia não houve uma cerimonia de lançamento para evitar aglomerações. 


Aulas de Atabaque - Filhos do Carmo

As aulas comandadas pelo mestre Júnior Matos e desenvolvida no Centro espírita Nossa Senhora do Carmo que é fruto do casal Gilda Portella e Dionido Campos vem formando ogãs e simpatizantes com aulas semanais. Os interessados podem entrar em contato para agendar avaliação pelo (65) 996410281.

Veja um pouco das aulas 

 


Em atualizações

é só o tempo de tomar um café


Fale com a gente

Peça sua Oração? Mande um e-mail!

Mande um Whats
Jardim Imperial, nº 4433

A Serviço da Caridade

Acompanhe nossas Redes Sociais

Newsletter