É com imenso carinho que registro a chegada de Vó Maria em minha caminhada espiritual. Em setembro de 2022, iniciei minha trajetória no Centro Espírita Nossa Senhora do Carmo, primeiramente como consulente. Logo, fui convidada a participar das giras — convite que aceitei com o coração aberto. Fui acolhida com ternura, embora, naquele momento, ainda não soubesse como proceder durante a incorporação dos pretos-velhos.
Até que, certo dia, o Pai Dionildo me chamou e me pediu que me sentasse no banco ao lado do altar. Foi ali, naquela simplicidade sagrada, que minha preta-velha se manifestou pela primeira vez. Chegou tranquila, falou com serenidade e logo revelou seu nome. Senti, desde o início, a compreensão profunda dela diante da minha insegurança e das dificuldades naturais do início desse processo. Com o tempo, fomos nos conectando com mais profundidade — um elo que se fortalece a cada gira.
Vó Maria não fuma cachimbo, prefere a pureza da água. Está sempre pronta a auxiliar outros pretos-velhos quando solicitada, e também sabe pedir ajuda quando necessário. Inicia seus atendimentos com orações, pedindo ao consulente que mentalize seus desejos, enquanto realiza o passe com delicadeza e firmeza. Suas conversas são diretas e breves, mas sempre carregadas de sabedoria. Atua ao lado de Julião, e quando percebe que há necessidade de uma limpeza feita por Exu, ele mesmo autoriza e contribui com a pinga que traz consigo, para o descarrego.
Já se passaram mais de dois anos desde que comecei a trabalhar com minha preta-velha. Em uma ocasião especial, durante uma visita a um sítio de amigos, tive uma revelação marcante. Ao sair pela porta da cozinha, senti com nitidez o cheiro da planta Guiné, como se alguém tivesse tocado em seus ramos — embora não houvesse ninguém por perto. Naquele instante, lembrei da pergunta que tantas vezes fiz em silêncio: “Vó Maria… de quê?”. E ali, com clareza, compreendi: seu nome completo é Vó Maria da Guiné, preta-velha da linha de Xangô.
Naquele mesmo momento, meu esposo teve uma visão clara dela: usava uma blusa branca, saia marrom-clara e um lenço branco na cabeça. Era de pele negra, baixa estatura e presença serena. Fiquei profundamente emocionada — uma confirmação espiritual que tocou minha alma.
Sinto a alegria dela cada vez que alguém retorna ao centro para agradecer, com o coração em paz, por ter sido atendido em seus pedidos. Seguimos assim, lado a lado, nessa caminhada espiritual: nos conhecendo, aprendendo, praticando a caridade, oferecendo palavras de conforto, amor e motivação. Tudo com um único propósito: ver os filhos da Terra felizes e em equilíbrio.
Salve, Vó Maria da Guiné! Salve todos os Pretos Velhos! Adorei as Almas!
Por Marizete Peixoto